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Kamala Harris: A Candidata Acidental em Busca de Mais um Marco Histórico na Casa Branca

2024-11-04

Autor: Gabriel

“Mas nós nunca desistimos. Porque sempre vale a pena lutar pelo futuro. E é essa nossa luta agora: pelo futuro dos EUA.” Com essas palavras, Kamala Harris se tornou a segunda mulher a discursar como candidata à Presidência durante a Convenção Nacional Democrata, um momento crucial e complexo de sua carreira pública. De promotora na Califórnia a candidata em uma campanha que a pegou de surpresa, a filha de imigrantes vê a disputa não apenas como uma defesa da democracia americana, mas também como uma reafirmação de sua identidade como mulher, negra e asiática.

Em sua jornada, Kamala fez questão de abordar a defesa da democracia como um apelo aos eleitores indecisos, destacando o impacto que a violência política e a desinformação têm na sociedade. Sua visão foi moldada por suas experiências desde a infância, sendo filha de uma mãe indiana e um pai jamaicano, e participando de programas inovadores de dessegregação em sua juventude.

Graduada na Universidade Howard, de forte tradição no ativismo negro, e na Universidade da Califórnia, em Hastings, sua carreira como promotora se estendeu por quase três décadas, durante as quais se identificou como uma liderança progressista, apesar de ser alvo de críticas por sua abordagem punitivista em certos casos.

Um momento marcante de sua trajetória foi seu primeiro grande passo político em 2003, ao vencer a eleição para promotora distrital de São Francisco. Apesar de suas sacadas progressistas, sua gestão trouxe à tona um viés criticado em relação ao aumento de condenações, mesmo por crimes não violentos. Em um caso emblemático, sua recusa em buscar a pena de morte para um homem acusado de matar um policial a expôs a críticas severas de outros representantes do Partido Democrata.

Mesmo assim, Kamala conseguiu superar esses desafios e, em 2010, foi eleita procuradora-geral da Califórnia, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar o cargo. Durante seu tempo no cargo, o uso da Proposta 47, que reformulou algumas penas para delitos não violentos, foi uma questão controversa, mas ela não fez campanha ativa a favor ou contra a proposta.

Sua conexão com Barack Obama se solidificou quando foi uma das primeiras a apoiar sua candidatura em 2008, num momento em que o mundo político americano estava mudando. Em 2016, ela foi eleita para o Senado, fazendo história como a primeira senadora negra da Califórnia e posteriormente integrando comissões essenciais, como a do Judiciário.

A virada da sua carreira veio com o desafio à presidência em 2019, participando de uma área democrática lotada de candidatos. Embora não tenha conseguido a candidatura, seu papel como vice-presidente abriu portas e, em 2020, fez história ao se tornar a primeira mulher negra e de ascendência asiática a assumir o cargo nos Estados Unidos.

No entanto, sua gestão no início da vice-presidência foi marcada por desafios significativos. A nomeação como “czarina da imigração” culminou em uma série de controvérsias, especialmente devido ao aumento das travessias ilegais. Sua resposta a uma pergunta em uma entrevista da NBC gerou um fogo cruzado de críticas e, durante quase um ano, sua popularidade despencou.

A reviravolta começou em 2022 quando a Suprema Corte decidiu derrubar os direitos ao aborto, colocando-a na linha de frente da batalha pelos direitos reprodutivos, um papel que rapidamente ressoou com eleitoras e ativistas em todo o país. Kamala, que inicialmente planejava concorrer à presidência apenas em 2028, agora se vê em uma corrida improvisada após a desistência de Biden.

O apoio de figuras prominentes do Partido Democrata, doadores generosos e um discurso voltado para a juventude a posicionaram como uma forte candidata. Sua imagem de 'Kamala Brat', um título inusitado dado pela cantora Charli XCX, destaca seu apelo mais leve em contraste com as falas agressivas de Trump.

Entretanto, o conteúdo da campanha de Biden, incluindo a inflação e a crise migratória, permanece um fardo pesado. Kamala agora tem a oportunidade de mudar sua narrativa, buscando ser a primeira mulher presidente dos EUA. Em suas próprias palavras, "Ou será Donald Trump no comando, planejando sua vingança, ou eu estarei aqui, trabalhando incansavelmente para o povo americano, como sempre fiz.”

Kamala Harris se prepara para um embate histórico, a luta pela Casa Branca e um legado que será lembrado por gerações.