O julgamento de um dos casos mais perturbadores da França teve continuidade nesta segunda-feira (4) com a oitiva de oito réus adicionais. Este caso envolve Dominique Pelicot, de 71 anos, que, junto a mais de 50 co-réus, é acusado de estuprar sua ex-mulher, Gisèle Pelicot. As acusações geraram uma onda de indignação em todo o país desde o início do processo em setembro, na cidade de Avignon.

Gisèle, 71 anos, emergiu como um ícone feminista ao exigir um julgamento público, com o objetivo de "mudar o estigma da vergonha" que muitas vítimas de abuso enfrentam. O caso já atraiu a atenção mundial e inspirou apoio massivo, tanto na França quanto internacionalmente, para a vítima.

Antoine Camus, advogado de Gisèle, afirmou que a visibilidade do caso encorajou sua cliente a continuar lutando. "Ela está se sentindo fortalecida pelo apoio que recebe de todos os lados. Este é um processo longo, mas sua determinação não vacila", declarou Camus.

O caso começou a ganhar notoriedade quando Dominique Pelicot foi preso, em 2020, por filmar mulheres debaixo das saias em um supermercado. Em declarações surpreendentes, ele admitiu ter estuprado Gisèle e recrutado um número impressionante de homens para participar dos abusos entre 2011 e 2020. Imagens e registros encontrados por investigadores em discos rígidos trouxeram mais evidências ao caso.

Os co-réus, que enfrentam penas de até 20 anos de prisão, alegam desconhecer que faziam parte de um crime, acreditando que estavam participando de uma fantasia sexual consentida. Isso deixou Gisèle profundamente abalada.

"Ela ouve constantemente justificativas que minimizam seu sofrimento. É como se estivesse sendo responsabilizada por um 'erro de julgamento' coletivo dos réus", explicou Camus.

Entre os réus que serão ouvidos mais uma vez está um caminhoneiro, um pedreiro e até um técnico de informática acusado de planejar usar táticas semelhantes em sua própria esposa. O caso é ainda mais perturbador com a presença de um homem de 63 anos, soropositivo, que teria estado em sua casa repetidamente para estuprar Gisèle sem proteção, aumentando as implicações de saúde e segurança.

Com a necessidade de justiça pairando sobre o tribunal, as próximas audiências prometem trazer novos detalhes alarmantes à tona, especialmente quando especialistas em psicologia forem ouvidos na terça-feira, seguidos de novas provas a partir de quarta-feira.

Um dos réus, um desempregado de 41 anos, é acusado de ter participado de um estupro particularmente chocante, com a cúmplice do marido na casa da filha do casal, revelando uma dinâmica de abuso familiar radicalmente perturbadora. Sua filha, Caroline Darian, que já publicou um livro sobre suas experiências traumáticas e está ativando discussões sobre uso de drogas em agressões sexuais, tem comparecido ao tribunal para apoiar sua mãe, mas também enfrenta seus próprios desafios emocionais.

Enquanto a luta de Gisèle continua, a sociedade observa atentamente não apenas pelo resultado deste caso específico, mas também pelo precedente que pode estabelecer na luta contra a violência de gênero na França e em todo o mundo.