O professor John Mearsheimer, um dos mais respeitados teóricos das relações internacionais, fez uma análise poderosa sobre o futuro dos Estados Unidos em um mundo em rápida transformação. Durante uma palestra disponível no canal The Strategist do YouTube, Mearsheimer apresentou uma visão alarmante: a política externa americana, desde o fim da Guerra Fria, é marcada por uma série de fracassos, resultado de uma estratégia falha de hegemonia liberal.

Mearsheimer iniciou sua exposição interrogando por que, apesar do otimismo da década de 1990, a política externa dos EUA se transformou em 'um desastre atrás do outro'. Ele critica severamente o que considera erros estratégicos cometidos em regiões cruciais como o Oriente Médio, Europa Oriental e China. 'A política externa liberal é uma receita para o desastre', declarou, observando que o problema não está no liberalismo como uma filosofia interna, mas na tentativa de universalizá-lo sem considerar as realidades locais.

Hegemonia Liberal em Crise

O professor revelou que, após a Guerra Fria, os Estados Unidos adotaram a estratégia de 'hegemonia liberal', buscando moldar o mundo à sua imagem, promovendo democracias liberais interconectadas. Contudo, essa abordagem se chocou com o nacionalismo e o realismo, forças irresistíveis na política global. 'O nacionalismo e o realismo superaram a hegemonia liberal em cada passo', ressaltou Mearsheimer.

Ele enfatiza uma distinção crucial entre liberalismo interno e externo. No contexto político americano, a ênfase é no indivíduo e seus direitos. No entanto, ao tentar exportar essa visão para outras nações, os EUA falham em reconhecer as profundas raízes de soberania e identidade nacional que dominam o mundo. 'Os humanos são naturalmente seres sociais, nascidos em grupos', observou, sugerindo que a conexão nacional é uma força mais poderosa que a ideologia individualista do liberalismo.

Fracos Fundamentos da Política Externa Americana

Mearsheimer menciona três grandes fracassos da política externa dos EUA: a Doutrina Bush no Oriente Médio, a expansão da OTAN e a integração econômica com a China. Ele critica a Doutrina Bush por provocar caos na região, enquanto a expansão da OTAN até as fronteiras da Rússia resultou na crise da Ucrânia. 'A ideia de que poderíamos expandir a OTAN até as fronteiras da Rússia sem repercussões é notavelmente ingênua', disse.

Em relação à China, Mearsheimer argumenta que os EUA, ao tentar engajar o país na economia global, inadvertidamente facilitaram a ascensão de uma superpotência rivais, ao invés de transformá-la em uma democracia liberal. 'O que criamos foi um 'Godzilla' econômico', lamentou, referindo-se à crescente rivalidade entre as potências.

A Era do Multipolarismo

O professor prevê que a era da hegemonia unipolar dos Estados Unidos está chegando ao fim, com a ascensão de um novo mundo multipolar, no qual o poder será dividido entre várias grandes potências, incluindo a China e a Rússia. Mearsheimer acredita que a eleição de Donald Trump em 2016 é um reflexo do descontentamento do público americano com os insucessos da política externa. 'Trump foi eleito porque o povo percebeu que nossa política externa foi um fracasso', enfatizou.

Com a ascensão de novas potências, a hegemonia liberal torna-se insustentável, destacou Mearsheimer. 'Estamos profundamente preocupados com o equilíbrio de poder, especialmente em relação à China e à Rússia', afirmou. Para ele, isso exigirá que os Estados Unidos se adaptem às novas realidades do poder global e abandonem a agenda de engenharia social em favor de uma abordagem mais realista.

A análise de Mearsheimer não apenas marca o fim de uma era na política externa dos EUA, mas também sugere que o país precisará se ajustar a uma ordem mundial em transformação, caracterizada pela competição entre várias potências. Ele conclui afirmando que a 'era da hegemonia liberal dos EUA acabou. O mundo agora é multipolar.' Uma realidade que poderá redefinir as relações internacionais nos próximos anos! Prepare-se para as mudanças!