Invasão russas em Donetsk: Entre Alívio e Incerteza
2024-11-13
Autor: Ana
Em Donetsk, o som dos sistemas de defesa antiaérea em operação durante a noite serve como um eco da vida em uma zona de guerra. Para os moradores locais, no entanto, é um sinal de alívio, uma nova fase de resistência.
"Depois de uma década sob incessantes bombardeios, agora enfrentamos somente drones há cerca de dois meses", relata Aleksandr, um membro do movimento separatista que iniciou a guerra civil na região em 2014. Para ele, que preferiu não revelar seu sobrenome, a invasão de Vladimir Putin em 2022 não é vista como uma agressão, mas uma 'libertação'.
Essa perspectiva contrasta drasticamente com a visão do governo de Kiev, que denuncia uma limpeza étnica com o objetivo de misturar a demografia local, que tem raízes históricas russófonas. O governo ucraniano argumenta que a invasão russa busca alterar a composição populacional da região, que era majoritariamente ucraniana.
Atualmente, Donetsk se afirmou como indiscutivelmente uma cidade russa. A capital foi tomada pelos separatistas que se opuseram à queda do governo pró-Moscou em 2014. A linha de frente estava a apenas 2 km do centro, em Avdiivka, até que a pequena cidade foi capturada recentemente, desencadeando a atual ofensiva de Putin na área. "A artilharia vinha de lá", afirmou Oleg, um membro das forças de segurança locais.
A paisagem ao redor de Donetsk é desoladora, com casas em ruínas e campos devastados. O fogo agora é dirigido contra os oponentes, algo que é de extrema importância para os separatistas e para a população local.
Enquanto a guerra civil avançava lado a lado com a anexação da Crimeia por Putin em 2014, ele tinha preferido manter o conflito congelado no leste da Ucrânia, o que lhe permitiu evitar custos elevados e manter a Ucrânia fora das alianças ocidentais, como a OTAN. Em 2021, após não obter resposta a suas demandas, decidiu pela ação militar. Oleg posteriormente compartilhou que o dia da invasão foi um dos mais felizes de sua vida.
O dissenso é raro em uma zona de guerra, mas uma conversa com um garçom revela o desejo de escapar da situação atual. "Como faço para sair daqui?", perguntou. Ele expressou que não deseja viver em um lugar onde há militares nas ruas. O jovem também considerou o risco de se alistar no exército local, onde os voluntários recebem aproximadamente R$ 12.300 por mês, sendo uma quantia atrativa.
A incerteza também permeia o cotidiano de Donetsk. Mikhail, um estudante de economia que apoia fervorosamente Putin, destacou a escassez de água como o principal problema da região. Devido a uma combinação de destruição e interrupção do fornecimento, os moradores dependem de um sistema aquático baseado no rio Don, que atualmente não oferece um abastecimento adequado.
Dentro de Donetsk, a vida parece voltar ao normal em alguns aspectos: cafés e restaurantes estão reabrindo, mesmo que muitos edifícios ainda tenham janelas cobertas por tábuas de madeira. As lojas de artigos militares coexistem com estabelecimentos locais que encontram maneiras de se adaptar às sanções ocidentais, como o Don Mak, que preexistia à mudança da marca McDonald's na Rússia.
No entanto, a sombra da guerra continua a pairar, com incertezas que impactam todos os aspectos da vida. Embora a capital tenha registrado um aumento na atividade militar, não há a mesma presença de postos de controle que são comuns em outras regiões ocupadas, sugerindo uma tentativa de normalização em meio ao conflito. A luta por Donetsk, entre alívio e incerteza, ainda está longe de acabar.