Negócios

Impacto da Nova Política do Salário Mínimo: 'Partido de Esquerda Tendo que Mexer Nisso Deve doer na Pele'

2024-12-20

Autor: Carolina

Zeina Latif, economista renomada, analisa as recentes mudanças na política de abono salarial e reajuste do salário mínimo que estão em debate no Congresso. Com as reformas propostas, surge a pergunta: isso é tudo culpa do Lula?

Na recente votação da Câmara que aprovou o projeto que altera a correção do salário mínimo, Latif enfatiza que o temor do mercado está ligado à deterioração das contas públicas e à resistência do governo em promover uma reforma profunda na Previdência. "Estamos passando por uma crise de confiança que está diretamente atrelada aos cenários políticos atuais", explica Zeina.

Apesar da apreensão em relação ao governo, a economista acredita que o medo de uma repetição dos erros do governo Dilma é injustificado, considerando o perfil negociador e político do presidente Lula. A aprovação do pacote fiscal, que inclui mudanças significativas no abono salarial e novas regras para o aumento do salário mínimo, revela dois simbolismos importantes.

Primeiro, Latif destaca que a política de abono salarial, reconhecida como ineficaz e muito custosa, está sendo revista por um partido de esquerda: "Para um governo que historicamente defende políticas sociais, mexer nesse aspecto deve ser doloroso. Está atingindo, principalmente, as classes médias trabalhadoras. Essa é uma abordagem gradual, que poderá trazer mais segurança do que uma mudança abrupta", afirma.

O segundo simbolismo é uma admissão do governo sobre os erros cometidos em relação ao reajuste do salário mínimo. Inicialmente, o governo estabeleceu uma regra de aumento real atrelada ao crescimento do PIB dos dois anos anteriores, que foi alterada para um limite de aumento de 2,5%, em linha com o crescimento dos gastos públicos em geral. "Um partido de esquerda tendo que alterar uma política social deve causar desconforto", observa Latif.

A economista também elogia a intervenção do Banco Central, que utilizou reservas cambiais de aproximadamente US$ 360 bilhões para conter a alta do dólar, que chegou a R$ 6,30 em seu pico. "Diante de um cenário de pânico no mercado, essa intervenção foi necessária para evitar uma distorção ainda maior", diz.

Entretanto, Latif sugere que o governo deveria ter considerado ajustes no seguro-desemprego, que, segundo ela, pouco impacta a rotatividade no mercado de trabalho, e também na reforma administrativa, visando a modernização e a eficiência da gestão pública.

Essas mudanças, embora possam ser incômodas, são vistas como passos fundamentais para assegurar a saúde fiscal do Brasil em um cenário econômico desafiador. No entanto, a real capacidade do governo de implementar essas reformas e o impacto delas sobre a população ainda permanecem como questões cruciais a serem discutidas.