O setor de saúde no Brasil passou por uma transformação significativa em 2024, com resultados financeiros que impressionaram o mercado. O lucro total dos planos de saúde superou a marca de 10 bilhões de reais, um aumento chocante de 430% em comparação com o ano anterior. Destaque para a SulAmérica, que registrou um lucro de 2,1 bilhões de reais, seguida pela Bradesco Saúde com 1,5 bilhão. A Hapvida e a Notre Dame Intermédica, empresas que pertencem ao mesmo grupo, somaram juntas um lucro de 1,6 bilhão de reais. Uma verdadeira recuperação também foi observada pela Amil, que saiu de um prejuízo de 4 bilhões para um lucro de 620 milhões.

Diversos fatores explicam esse desempenho extraordinário, como o aumento das mensalidades dos planos, a redução da rede assistencial e o corte de benefícios, incluindo cancelamentos unilaterais que permitem que as empresas se livrem de clientes que geram prejuízos. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) indicam que as operadoras estão gastando menos com reembolsos: de 6,1% das despesas assistenciais em 2022, essas despesas caíram para 4,6% no ano passado. Um ponto controverso é a dívida que as operadoras acumulam com o SUS, que resulta em um deslocamento de usuários para o sistema público sem que as operadoras efetuem os devidos reembolsos, em desrespeito à legislação vigente.

Entre as operadoras, a Hapvida se destaca ao reportar uma dívida de 869 milhões de reais com o SUS, nunca tendo feito qualquer pagamento até o momento. A empresa optou por judicializar a questão, alegando que o cálculo de cobrança feito pela ANS ultrapassa o que a lei permite. Essa situação é mais comum do que se imagina, já que as dívidas com o SUS são, em grande parte, provenientes de procedimentos de alto custo, como hemodiálises e cirurgias, que acabam sendo muito mais vantajosos financeiramente para as operadoras quando deslocados para o SUS.

Recentemente, a Hapvida anunciou uma conquista impressionante no âmbito do programa Desenrola Brasil, que oferece uma nova chance para dívidas inadimplidas. Em 19 de março, a empresa divulgou que obteve um perdão de 866 milhões de reais de sua dívida com o SUS. O governo ainda está analisando o pedido, mas a Hapvida já considerou essa quantia em seu balanço de 2024. Essa medida teve repercussões diretas na distribuição de lucros para acionistas e remunerações para executivos.

Um alto funcionário da Agência Nacional de Saúde Suplementar comentou: “É um escândalo. A empresa evita pagar o SUS, limpa seu balanço e ainda consegue pagar bônus e dividendos.” Jorge Fontoura Pinheiro Koren de Lima, presidente da Hapvida, figura no ranking dos executivos mais bem pagos do Brasil, com um salário anual de 67,4 milhões de reais. Ao ser procurado para comentar sobre a inclusão do perdão da dívida em seu balanço, Koren de Lima não respondeu.

Se o pedido de perdão for aprovado, isso poderá abrir precedentes preocupantes para o setor de saúde no Brasil. A situação levanta questões sérias sobre a responsabilidade das operadoras de saúde em relação ao SUS e o impacto que suas decisões podem ter na saúde pública. A comunidade e os especialistas estão atentos a esses desdobramentos!