Em uma fatídica noite em Barcelona, um homem de aparência descuidada e roupas velhas atravessava a Gran Via de les Corts Catalanes. Ele, distraído e apoiado em uma bengala, foi pego de surpresa por um bonde e, ao tentar desviar, acabou sendo atingido por outro.

Apesar da gravidade do acidente, o homem, que na verdade era o renomado arquiteto Antoni Gaudí, foi tratado como um indigente. Poucas almas se dispuseram a ajudar, enquanto os taxistas recusaram-se a levá-lo a um hospital. Somente com a intervenção de um guarda civil, Gaudí finalmente recebeu os cuidados que necessitava.

No dispensário onde foi atendido, sua condição foi avaliada: diversas fraturas e um sangramento no ouvido. Curiosamente, ele não portava documentos pessoais, apenas um livro dos Evangelhos, um rosário, um lenço e uma chave, características de sua vida simples e profundamente religiosa.

Foi apenas no dia seguinte que o capelão da Sagrada Família, a oração monumental que Gaudí estava projetando, o reconheceu. A gravidade de seus ferimentos o levou a um fim trágico; ele faleceu três dias depois, em 10 de junho de 1926, deixando um legado imortal.

O Legado de um Gênio

Conhecido como o "arquiteto de Deus", Gaudí teve um impacto inegável na arquitetura e no modernismo catalão. Entre suas obras mais icônicas, destacam-se o Parque Güell, a Casa Milà e a Casa Batlló, todas listadas como Patrimônio Mundial pela UNESCO.

Seu trabalho mais famoso, a Sagrada Família, continua em construção, com previsão de conclusão para 2032. Em 2010, foi consagrada pelo Papa Bento XVI, que elogiou a dedicação e a fé de Gaudí.

Rumo à Santidade

Recentemente, em 14 de agosto, o Vaticano proclamou-o "venerável", um passo essencial rumo à sua canonização. Isso significa que a Igreja reconhece as "virtudes heroicas" de Gaudí. Para ser considerado santo, é necessário que um milagre seja validado.

Desde 1992, esforços para sua beatificação têm sido realizados, culminando com a apresentação da argumentação final ao Vaticano, uma iniciativa apoiada por figuras da Igreja.

Gaudí, que viveu uma vida repleta de devoção e simplicidade, torna-se assim um ícone não apenas da arquitetura, mas também da fé católica. Sua história, desde a confusão com um mendigo até a possibilidade de santidade, é um testemunho do valor e da contribuição de um gênio.