Ciência

'Fórmula de Midas', a Equação Que Prometia Fortuna e Causou Desastre (Ainda Usada Hoje)

2024-09-21

'Fórmula de Midas', a Equação Que Prometia Fortuna e Causou Desastre (Ainda Usada Hoje)

Essa é a intrigante história de Como uma Descoberta Brilhante Transformou os Mercados Financeiros

Introduzindo inovações e riscos em uma era de grande especulação, surgiram, no século 20, movimentos científicos que buscavam uma fórmula matemática para eliminar a regra do capitalismo, segundo a qual, para se enriquecer, é preciso assumir riscos. A ideia era audaciosa: encontrar uma equação que permitisse a qualquer um tornar-se incrivelmente rico sem nenhum risco.

No entanto, profissionais do mercado acreditavam que o sucesso nos investimentos estava mais atrelado à intuição humana do que a cálculos matemáticos. Para contrabalançar essa ideia, um grupo de acadêmicos decidiu estudar matematicamente o funcionamento dos mercados e descobriram que, em grande parte, o sucesso financeiro era uma questão de sorte.

Na década de 1930, experimentos inusitados foram realizados. Um deles consistiu em um grupo de acadêmicos lançando dardos em uma página do *Wall Street Journal* para escolher ações ao acaso. Para a surpresa de todos, essas ações aleatórias superaram o desempenho pré-estabelecido pelos melhores corretores de Wall Street.

Esses resultados revelaram uma dura verdade: os preços das ações flutuam de forma aleatória, tornando impossível qualquer previsão precisa. Isso indignou muitos investidores que confiavam em suas fórmulas e métodos de previsão. A partir dessa descoberta, iniciou-se uma busca científica focada em controlar os mercados financeiros, aplicando a lógica e a matemática a essa arena de incertezas.

O Primeiro Sinal de Esperança

Em 1955, o economista Paul Samuelson fez um achado crucial na biblioteca de uma universidade francesa, onde encontrou uma obra do matemático Louis Bachelier. Neste manuscrito, Bachelier propôs o primeiro modelo matemático dos mercados, afirmando que, embora os preços das ações variem aleatoriamente, era possível mitigar os riscos usando contratos financeiros conhecidos como opções.

Essa ideia gerou enorme entusiasmo entre acadêmicos, que logo estudaram como essas opções poderiam funcionar como um seguro financeiro, permitindo que investidores comprassem ações sem o compromisso obrigatório, caso o preço não correspondesse ao esperado.

Entretanto, um problema persistia: como estimar o valor das opções com precisão, considerando que a confiança e a percepção de risco variavam entre os investidores? Esse dilema atraiu muitos estudiosos que começaram a desenvolver modelos complexos ao longo da década de 1960.

O Início de Uma Revolução

Em 1968, os economistas Fischer Black e Myron Scholes enfrentaram esse impasse, desenvolvendo uma fórmula matemática que eliminava variáveis irrelevantes e se concentrava nos elementos essenciais para definir o valor das opções: preço da opção, volatilidade, duração do contrato e taxa de juros. Com isso, criaram a renomada fórmula Black-Scholes, que revolucionou a forma como as opções eram avaliadas.

O grande objetivo era criar uma ferramenta que possibilitasse a recalibração instantânea do valor das opções, algo que foi finalmente alcançado com a colaboração do economista Robert C. Merton, que introduziu conceitos de cálculo contínuo, permitindo que investidores ajustassem os valores em tempo real.

O Crescimento Imediato e os Riscos Emergentes

A fórmula Black-Scholes rapidamente ganhou popularidade. Investidores passaram a utilizá-la para otimizar suas operações financeiras, gerando uma onda de novos derivados financeiros. O mercado estava em plena euforia, mas a dependência excessiva dessa fórmula logo geraria consequências desastrosas.

Em 1994, Myron Scholes e Robert Merton fundaram a Long Term Capital Management (LTCM), atraindo investidores com promessas de altos retornos. No início, os resultados superaram expectativas, mas a realidade mudou dramaticamente em 1997, quando crises financeiras em países asiáticos começaram a impactar os mercados globais.

A LTCM, inicialmente confiante, começou a acumular enormes dívidas. A situação se agravou em 1998 com a crise da dívida russa, levando a LTCM a uma queda vertiginosa em seus investimentos e à beira da falência, ameaçando todo o sistema financeiro internacional.

Os erros cometidos pelos fundadores da LTCM e a falha em prever as reações do mercado destacaram uma lição importante: mesmo com fórmulas matemáticas sofisticadas, o mercado financeiro permanece volátil e imprevisível. O que se seguiu foi um colapso que tirou bilhões de dólares do mercado e levou à necessidade de um resgate coordenado pelo Federal Reserve, evidenciando a fragilidade que existe por trás de qualquer sistema financeiro aparentemente sólido.

O Legado da Fórmula

Apesar da catástrofe da LTCM, a fórmula Black-Scholes e seus conceitos continuam a ser utilizados amplamente na prática financeira moderna. A fusão entre matemática e finanças permanece presente, com o modelo servindo como a espinha dorsal de muitos negócios e produtos financeiros, mesmo que, por vezes, sua eficácia dependente da interpretação e intuição dos investidores.

Os mercados continuam a ser um campo de riscos e potenciais riquezas, onde a combinação de ciência, sorte e estratégia delineia o destino de muitos, lembrando-nos que, apesar das fórmulas, o fator humano ainda desempenha um papel crucial na condução das finanças globais.