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Filme com sósia de Bolsonaro em cena impactante estreia em Brasília após inquérito da PF

2024-12-07

Autor: Carolina

Uma produção cinematográfica que aborda a figura de um presidente que tem suas peculiaridades, como organizar motociatas e repetir serpentes de caráter nacionalista, mas que, no fundo, é uma obra de ficção. O filme, intitulado "A Fúria", é dirigido pelo renomado cineasta Ruy Guerra, de 93 anos, e faz parte de uma trilogia que começou com "Os Fuzis" em 1964 e continuou com "A Queda" em 1976.

Guerra destaca que a intenção da obra não é simplesmente personalizar a história em Jair Bolsonaro, mas sim explorar as raízes do fascismo. "Não estamos personalizando. Não nos interessa o Bolsonaro, nos interessam os fascistas", afirma ele em entrevista. A co-diretora Luciana Mazzotti menciona que a obra é uma reflexão sobre o contexto atual, mesmo sendo uma narrativa que remete a concepções que já existem há muito tempo no Brasil.

Na trama, um personagem que foi vítima da ditadura militar busca justiça anos após sua morte, enquanto o presidente fictício aparece como um mero figurante. O verdadeiro poder está nas mãos de figuras como um presidente da Câmara, um empresário e um general. Essa escolha narrativa sublinha a crítica ao papel do Estado e dos líderes que podem unir diferentes facetas do poder.

Entretanto, os desdobramentos da produção tocaram a realidade brasileira de forma visceral. Durante as filmagens, o governo Bolsonaro abriu um inquérito na Polícia Federal após a divulgação de imagens no set que mostravam o ator principal vestindo a faixa presidencial manchada de sangue. Ruy Guerra, em meio a ameaças de morte, manifestou coragem e determinação: "Havia ameaças, mandaram carros rondar a produtora em São Paulo, mas decidimos seguir em frente."

Luciana relatou que as dificuldades financeiras para a finalização do filme foram superadas somente após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições. “Se o Bolsonaro tivesse vencido, o filme não teria sido terminado”, afirmou.

A estreia no 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro na última sexta-feira foi marcada por uma recepção calorosa do público, que aplaudiu Guerra de pé quando ele subiu ao palco. Durante a exibição, gritos de "sem anistia" ecoaram nas cenas em que o presidente aparecia, indicando a forte conexão emocional do público com a narrativa e a crítica social inserida no filme.

Ruy enfatizou que "A Fúria" foi um projeto que enfrentou perseguição política e psicológica. "Essa é uma maneira muito ignóbil, muito baixa de tentar nos calar. Recusamos isso. ", acrescentou o diretor. Luciana também destacou que a coragem de abordar a morte de um presidente na ficção reflete uma representação dos herdeiros da ditadura que ainda hoje desfrutam de privilégios.

Além de ser o último filme do ator Paulo César Pereio, que faleceu em maio, "A Fúria" traz de volta o personagem Mário, agora interpretado por Ricardo Blat, uma homenagem ao talento do falecido Nelson Xavier, que protagonizou os primeiros filmes da trilogia. Ruy Guerra à frente dessa obra retrata a persistência da luta crítica e artística em tempos de censura e medo.