Val Kilmer só procurou ajuda médica para tratar um grave tumor na garganta após sofrer um sangramento em 2015, não conseguindo mais ocultar sua condição. O famoso ator, que faleceu aos 65 anos na última terça-feira (1º), escondia o inchaço crescente no pescoço com cachecóis e roupas mais robustas. Na época, familiares de Kilmer insistiram que ele buscasse tratamento para sua doença, mas ele teria recusado em razão de suas crenças na Ciência Cristã.

Próximo de seus 65 anos, Val Kilmer ficou conhecido por seus papéis emblemáticos, incluindo o de Jim Morrison no filme 'The Doors', para o qual precisou de terapia para se desvincular do personagem. Sua última aparição no cinema emocionou o público, especialmente Tom Cruise, que ficou tocado ao ver a voz do colega regenerada por inteligência artificial.

Amigos próximos a Kilmer afirmaram que ele evitou rigorosamente qualquer tratamento médico contra o câncer. Os adeptos da Ciência Cristã, uma religião que se originou nos Estados Unidos, acreditam que a cura vem por meio da oração e não da medicina convencional, o que influenciou a decisão do ator.

Fundada em 1879 por Mary Baker Eddy, a Ciência Cristã tem uma história de desconfiança em relação à medicina tradicional. Membros da religião foram processados por não levarem enfermos a médicos, considerando os tratamentos médicos como "charlatanice". Contudo, nos últimos anos, a diminuição no número de fiéis e os danos à reputação da religião desencadearam uma mudança na abordagem, permitindo que os membros busquem assistência médica quando realmente necessário.

recentemente, a igreja iniciou uma campanha pública nos Estados Unidos para redefinir sua prática como um complemento aos tratamentos médicos, semelhante a práticas como quiropraxia e homeopatia. Eles têm feito lobby em capitólios estaduais, argumentando que sua abordagem deve ser reconhecida como uma alternativa válida para cuidar de doentes, solicitando que os custos sejam cobertos por seguradoras.

Os praticantes da Ciência Cristã no Brasil, que atualmente têm presença em várias cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, são instruídos a auxiliar os fiéis em suas orações. No entanto, suas credenciais não são médicas, e a doutrina mora na crença de que doenças são resultados de conflitos mentais.

Mary Baker Eddy, a fundadora da religião, escreveu que chamar um médico em casos de doença é "convidar a derrota". Embora não haja dados oficiais sobre o número de fiéis, especialistas estimam que a prática religiosa tenha diminuído para menos de 100 mil pessoas, um número consideravelmente menor do que no início do século XX.

Na busca por revitalizar a igreja, líderes estão tentando suavizar os aspectos mais rígidos e acolher aqueles que vêem na oração da Ciência Cristã uma forma de apoio aos tratamentos médicos tradicionais. Isso reflete uma tentativa de manter a relevância da prática entre as novas gerações, que muitas vezes questionam as visões mais radicais da religião. Em meio a esse contexto, a história de Val Kilmer se torna um caso emblemático que levanta questões sobre crença, saúde e a influência das convicções religiosas na vida de figuras públicas.