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Explosões no Líbano: O que a tragédia revela sobre o uso de pagers hoje

2024-09-21

Três mulheres seguram pagers na Alemanha, em 1997. — Foto: Associated Press (AP)

A pequena caixa de plástico que emitiu bipes e piscava números foi uma tábua de salvação para Laurie Dove em 1993. Grávida e longe da civilização, Dove manteve contato crucial com seu marido enquanto ele realizava entregas de suprimentos médicos, utilizando um código único.

“Se eu precisasse de algo urgentemente, enviava a mensagem ‘9-1-1’. Para nós, isso significava qualquer coisa, desde ‘Estou em trabalho de parto’ a ‘Preciso muito de você’”, relembra. A simplicidade e a eficiência do pager foram essenciais em um momento crítico de sua vida.

Por décadas, os pagers eram sinônimos de comunicação e conexão em momentos de emergência. No entanto, em um trágico acontecimento na última terça-feira (17 de setembro de 2024), esses dispositivos fizeram headlines novamente — não como um símbolo de comunicação efetiva, mas como um aterrador sinal de destruição. Milhares de pagers explodiram em um ataque misterioso que deixou pelo menos 12 mortos e feriu milhares, no contexto da intensificação do conflito entre Israel e o Hezbollah.

Essas explosões oferecem uma visão inquietante sobre como, apesar da era digital, o pager ainda encontra seu espaço principalmente em situações de emergência. Os profissionais de saúde e de emergência frequentemente preferem pagers devido à sua resistência em ambientes sem sinal, como hospitais e áreas remotas. Em emergências, a confiabilidade dos pagers, que não dependem de internet ou pontos de telefonia, é frequentemente ressaltada por especialistas.

"Um celular, no fundo, é como um computador em sua bolsa, enquanto um pager tem uma fração dessa complexidade", comentou Bharat Mistry, especialista em segurança cibernética. Para quem valoriza a privacidade, os pagers oferecem uma alternativa atraente, já que não podem ser facilmente rastreados, diferentemente dos smartphones.

O surgimento dos pagers remonta à década de 1940 e, no auge de sua popularidade, nos anos 80, milhões de americanos utilizavam esses dispositivos como símbolo de status. No entanto, também estiveram associados de maneira negativa a traficantes de drogas. Na década de 90, as escolas começaram a proibi-los, alegando que dificultavam a luta contra drogas nas instituições de ensino.

Hoje, embora o uso de pagers tenha diminuído drasticamente com a ascensão dos smartphones, eles ainda são cruciais em certos setores, especialmente na medicina. Dados indicam que aproximadamente 750 mil pagers estão em operação em grandes sistemas hospitalares ao redor do mundo, um testemunho de sua durabilidade.

O recente ataque no Líbano trouxe à tona novamente a ideia de que, em um mundo saturado de tecnologia, algumas soluções aparentemente obsoletas ainda têm seu valor. Membros do Hezbollah têm utilizado pagers há anos, especialmente como uma maneira de driblar a vigilância da tecnologia moderna. O que começou como um dispositivo simples se tornou, tragicamente, uma ferramenta de comunicação em um contexto de conflito.

Enquanto o mundo continua a evoluir digitalmente, o legado dos pagers nos lembra que há situações em que o mais simples pode ser o mais eficaz. O clamor por soluções de comunicação que funcionem em situações críticas permanecerá, mesmo que isso signifique olhar para tecnologias que muitos considerariam ultrapassadas.

Para os profissionais de saúde, apesar do desejo de se livrar dos pagers, muitos ainda os utilizam diariamente. No entanto, a luta pela modernização continúa, e a combinação de tecnologia e segurança permanece uma busca constante. A tragédia no Líbano é um lembrete doloroso de como a tecnologia, mesmo a mais antiga, pode ter um papel devastador numa crise.