'Eu ia a restaurantes e levantava 30 vezes': Luciano revela os desafios de viver com TOC
2025-01-02
Autor: Mariana
As "manias" de Luciano Coelho, um arquiteto brasileiro, só foram se intensificando com o passar do tempo, transformando sua vida em um verdadeiro labirinto de compulsões e rituais. Desde o ato simples de acordar até momentos cotidianos como sair de casa, ele enfrentava batalhas constantes contra pensamentos intrusivos.
"Antes de abrir os olhos pela manhã, era necessário pensar em algo bom. Se surgisse um pensamento negativo, eu tinha que fechar os olhos e abrir novamente. Isso se estendia até passar pela porta do quarto: eu precisava pensar em algo positivo ou teria que voltar e passar de novo. Imagina, em um dia, passar pela porta do banheiro, da sala, e ainda lutar para me alimentar, pois ir até a cozinha era um desafio monumental", relata Luciano, que foi diagnosticado com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
O TOC é um distúrbio psicológico que provoca ansiedade extrema devido a pensamentos intrusivos, levando a comportamentos repetitivos que se tornam quase incontroláveis. Luciano comentou sobre o constrangimento de ir a um restaurante e precisar levantar repetidas vezes para conseguir se acalmar. "Era como se todos os olhos estivessem em mim enquanto eu me levantava e sentava de novo, 15, 30 vezes. Isso me fez isolar socialmente, evitando as saídas com amigos", acrescentou.
Entre os rituais que cultivava, estava a necessidade de relaxar somente se pensasse em algo positivo ao soltar objetos. "Se eu soltasse o controle remoto sem um pensamento bom, automaticamente surgiam pensamentos catastróficos, como 'algo ruim vai acontecer com alguém que amo'. Isso me forçava a repetir a ação até que o pensamento positivo aparecesse. Eu realmente perdi a conta de quantas vezes precisei repetir esse processo", explica.
Assistir à televisão se tornou uma atividade angustiante. Luciano precisava que o primeiro som ou palavra que ouvisse fora algo bom, caso contrário, era obrigado a desligar e ligar novamente até que a sorte estivesse a seu favor.
Os temas relacionados à religião geravam ainda mais pânico em sua mente. "Quando minha sobrinha nasceu, eu tinha a obsessão de que estava 'consagrando-a para o mal'. Isso gerava uma necessidade de rezar incessantemente, pedindo a Deus que a protegesse de qualquer mal. Com o tempo, isso se tornou exaustivo. Apesar de ter sido católico quando criança, atualmente não sigo mais uma religião, mas enfrento uma versão do TOC voltada para questões religiosas", compartilhou Luciano.
A psicóloga cognitiva comportamental Nível Melo ressaltou que a angústia do TOC não é apenas sobre as ações realizadas, mas principalmente sobre os pensamentos que inibem a vida das pessoas. "A obsessão gera uma dor imensa, levando a rituais físicos como forma de aliviar essa ansiedade. Quanto mais tentamos suprimir esses pensamentos, mais eles se tornam intrusivos", explica Melo.
Luciano viveu também desafios relacionados à limpeza pessoal. Um banho, por exemplo, chegava a durar horas, pois ele lavava o corpo repetidamente, evitando qualquer sensação de contaminação.
Após buscar ajuda psiquiátrica, que envolveu terapia e medicação, Luciano agora está em alta médica e controla os sintomas do TOC. "Atualmente, estou em remissão. O transtorno está sob controle, e venho abrindo-me sobre isso nas redes sociais. Criei um canal para não apenas compartilhar minha experiência, mas também para ajudar outras pessoas, quebrar estigmas e desmistificar o que significa viver com TOC", disse ele.
É importante mencionar que cerca de 1% a 2% da população mundial vive com TOC, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o número iça cerca de quatro milhões de pessoas. Os principais sintomas começaram a surgir antes dos 25 anos, sendo mais frequentes em mulheres e possuindo um forte componente genético, afetando frequentemente familiares de pessoas diagnosticadas com o transtorno.
O tratamento geralmente envolve uma combinação de terapia e medicação, sendo a terapia cognitivo-comportamental a mais recomendada, com técnicas que visam controlar os sintomas por meio da exposição e prevenção de resposta, ajudando assim os pacientes a redefinirem suas vidas, pois o TOC, embora desafiador, pode ser gerenciado com o suporte adequado.