
Estudo da UFF revela áreas mais vulneráveis à elevação do mar em Niterói
2025-04-07
Autor: Ana
Uma nova pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) trouxe à tona um alerta preocupante sobre as vulnerabilidades ambientais da orla de Niterói, que poderão ser intensificadas pela elevação do nível do mar prevista até 2100. O estudo, publicado na renomada revista suíça Coasts em março, aponta que as áreas que fazem fronteira com a Baía de Guanabara são as mais afetadas por impactos socioeconômicos, enquanto os trechos que confrontam o Oceano Atlântico mostram uma fragilidade ambiental maior.
Os pesquisadores utilizaram uma matriz de vulnerabilidade ambiental para classificar nove regiões da cidade, atribuindo índices de risco com base em quatro fatores cruciais: exposição às ondas, presença de ecossistemas protegidos, densidade populacional e renda per capita. As regiões mais vulneráveis, localizadas na Região Oceânica, estão sob forte impacto das ondas, abrigando ecossistemas sensíveis como manguezais e restingas. Em contrapartida, áreas como o Barreto e partes do Centro, que são densamente povoadas e têm renda baixa, foram consideradas mais vulneráveis do ponto de vista socioeconômico.
Fábio Dias, professor do Departamento de Geografia da UFF e responsável pela coordenação do estudo, destaca: “A maioria dos municípios brasileiros não está preparada para enfrentar as mudanças climáticas. A escassez de recursos e a falta de capacidade técnica são os principais obstáculos. O nosso objetivo é fornecer informações úteis para os tomadores de decisão.”
O estudo também aponta que a elevação do mar pode exacerbar problemas já existentes, como a erosão costeira e a perda de infraestrutura urbana, além de aumentar a exposição de populações vulneráveis a enchentes. Em um cenário otimista, onde o nível do mar sobe 0,50 metro até 2100, eventos extremos de maré e ressacas poderiam elevar as águas em até 1,80 metro, afetando diretamente mais de nove mil moradores na Região Oceânica e causando danos a mais de dois milhões de metros quadrados de vegetação.
Em relação à densidade populacional, a pesquisa revelou que a área das Praias da Baía tem uma concentração densíssima, com cerca de 13.900 habitantes por quilômetro quadrado, enquanto a Região Oceânica apresenta números significativamente menores, como 537 habitantes por quilômetro quadrado. No tocante à renda, bairros como Barreto têm uma média de renda per capita inferior a R$ 650 por mês, enquanto Icaraí supera R$ 1.700 mensais.
Para mitigar esses impactos, os pesquisadores sugerem a implementação de medidas como o fortalecimento das estruturas de proteção costeira, controle do crescimento urbano e aumento dos programas de gestão ambiental.
Recentemente, a Empresa de Infraestrutura e Obras de Niterói (ION) anunciou a conclusão do projeto para a construção de um grande reservatório subterrâneo no Estádio Caio Martins, em Icaraí. Este projeto é parte de um plano mais amplo para melhorar a drenagem na região e minimizar os alagamentos que frequentemente afligem a área. Com capacidade para armazenar 80 milhões de litros de água, o novo reservatório ocupará uma ampla área do campo, o que exigirá a demolição das arquibancadas que ficam voltadas para a Rua Presidente Backer. A nova rede de drenagem que será implantada numa extensão de seis quilômetros, promete enfrentar os desafios impostos pelas chuvas intensas e, assim, proteger a população local.
A equipe de pesquisa da UFF também espera que suas conclusões incentivem um diálogo mais profundo sobre políticas públicas voltadas para a resiliência ambiental e a adaptação às mudanças climáticas em Niterói e em outras cidades costeiras do Brasil.