Estados que Elegeram Trump Também Defendem o Direito ao Aborto
2024-11-07
Autor: Gabriel
Na mais recente corrida presidencial, Kamala Harris dedicou-se intensamente a se apresentar como a defensora dos direitos reprodutivos, especialmente voltados às mulheres. Em suas visitas a estados com restrições ao aborto, como a Geórgia, ela fez questão de mostrar solidariedade a famílias que enfrentaram tragédias ao tentarem fazer abortos inseguros. Sua proposta de uma lei federal para reestabelecer os direitos ao procedimento, no entanto, não foi suficiente.
Embora Kamala tenha conquistado 53% do voto feminino, o apoio entre os homens foi significativamente diferente: 42% optaram pela democrata, enquanto Donald Trump atraiu 55% desse eleitorado. Os eleitores também indicaram que, para 14%, o tema do aborto era crucial na eleição, sendo 74% desse grupo mulheres e 25% homens. Questões como a democracia e a economia foram consideradas mais relevantes, enquanto tópicos como imigração e política externa ficaram em segundo plano.
Surpreendentemente, mesmo em estados onde Trump saiu vitorioso sobre Kamala, o direito ao aborto foi um tema que reverberou nas urnas. Em dez estados — Arizona, Colorado, Dakota do Sul, Flórida, Maryland, Missouri, Montana, Nebraska, Nevada e Nova York — a questão foi debatida nas cédulas de votação. Dentre eles, em sete estados, os eleitores se posicionaram a favor do direito ao aborto. Apenas na Flórida, Nebraska e Dakota do Sul a medida foi rejeitada.
No Colorado, por exemplo, a votação permitiu que o aborto fosse estabelecido como um direito constitucional, com a aprovação de repasses de verba pública para tal. Apesar da vitória de Kamala, ainda há votos a serem contados. Em Nova York, onde Kamala teve 55,8% dos votos, os eleitores aprovaram que o direito ao aborto seja protegido pela Constituição estadual, reforçando a legislação que já incorpora os elementos da decisão Roe vs. Wade desde 2019.
Maryland seguiu a mesma tendência, garantindo a proteção do direito ao aborto em nível estadual. Essa medida cria barreiras contra futuras tentativas de restringir o acesso ao procedimento.
Em cinco outros estados onde Trump se destacou nas eleições — Nebraska, Missouri, Montana, Arizona e Nevada — o direito ao aborto também foi garantido. No Missouri, o direito ao aborto é assegurado até a viabilidade fetal, que, embora não tenha uma definição precisa, se aproxima de cerca de 24 semanas de gestação.
Montana, que já tinha uma decisão judicial garantindo o aborto até a viabilidade, agora também conta com uma emenda constitucional que impede o governo de negar o direito à interrupção da gravidez. Em Nevada, as leis da década de 1990 já conferiam proteção ao aborto, mas agora o direito foi além e será garantido constitucionalmente, embora necessite de confirmação em um novo pleito em 2026.
O que há de mais chocante é que, enquanto a maioria dos eleitores nos estados elegeu Trump, questionando o aborto, outros temporariamente debatendo o assunto rejeitaram restrições. Na Flórida, uma proposta que impediria futuras leis limitantes foi negada, mantendo a rigorosa política de abortos até a sexta semana de gestação. Similarmente, Dakota do Sul e Nebraska se posicionaram contra a flexibilização das normas sobre interrupções de gravidez, seguindo um caminho cada vez mais restritivo.