Uma investigação da Polícia Federal (PF) revelou a possibilidade alarmante de corrupção e vazamentos em 14 processos do Superior Tribunal de Justiça (STJ), levantando questões preocupantes sobre a integridade da justiça no Brasil. Até agora, nenhum ministro do STJ foi indicado como alvo da investigação; em vez disso, o foco está em assessores que atuaram nos gabinetes dos magistrados. Entretanto, a PF ainda não identificou todos os servidores envolvidos e não descartou a possibilidade de participação de ministros, já que apenas uma amostra das conversas analisadas no inquérito foi coletada.

Os processos sob investigação incluem casos de grandes multinacionais e bancos, dentre eles uma ação da Du Pont do Brasil, um processo envolvendo a holding J&F (controladora da JBS) e litígios que tocam as instituições financeiras Bradesco, Santander e Nossa Caixa, a última das quais foi incorporada ao Banco do Brasil em 2009.

As suspeitas abrangem 12 hipóteses criminais, com a PF identificando indícios claros de corrupção passiva e ativa, exploração de prestígio e violação de sigilo funcional. Até o momento, não há acusações formais contra as empresas ou advogados associados aos casos. Entre os delitos identificados, existem múltiplas suspeitas em alguns processos, reforçando o potencial de um esquema mais amplo de irregularidades.

A investigação começou a partir de "amostras" das conversas de WhatsApp mantidas por Roberto Zampieri, um advogado envolvido nos casos. A PF destaca que apenas uma fração das informações extraídas do celular de Zampieri foi analisada, levantando preocupações sobre a possível extensão do envolvimento de juízes, desembargadores e ministros nos casos ilícitos.

A situação se torna ainda mais chocante com a revelação de que um empresário, que atua no setor de transporte e é único preso até agora, possuía em seu computador apreendido pela PF documentos de decisões do STJ. A esposa dele, Mirian Gonçalves, também foi alvo da operação, levantando questões sobre a abrangência das investigações.

Entre os casos destacados, um se refere à tentativa da Du Pont de cancelar uma condenação por danos ao empresário do agronegócio. Antes do julgamento, diálogos entre Zampieri e um lobista indicaram que a condenação seria mantida, e isso de fato ocorreu após a corte decidir, com base no argumento de que os interesses do cliente do advogado estavam claramente envolvidos.

Outro processo envolve uma disputa de R$ 600 milhões que coloca a holding J&F em uma posição controversa. Andreson, um lobista, alertou Zampieri sobre um voto da ministra Nancy Andrighi, cinco dias antes do julgamento. Enquanto isso, a J&F insistiu que todas as práticas legais estavam regularizadas.

Os desdobramentos dessa investigação não só abalam a confiança nas instituições judiciárias brasileiras, mas também levantam questões sobre a necessidade urgente de reformas estruturais no sistema de justiça. O caso continua a se desenrolar, e novas revelações têm potencial para mudar completamente a percepção pública sobre integridade na justiça.