Enem apresenta aumento no número de inscritos, mas Brasil enfrenta estagnação de vagas no ensino superior público
2024-11-02
Autor: Pedro
O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2024, considerado a principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil, registrou um aumento significativo no número de inscritos, alcançando 4,32 milhões, o que representa um crescimento de 9,95% em relação a 2023. Este é um indicativo do retorno do interesse por parte dos estudantes, especialmente após o recorde de baixa participação em 2021, durante o governo anterior.
Porém, essa recuperação no número de inscrições contrasta com a realidade preocupante das vagas nas universidades públicas, que permanecem estagnadas em cerca de 2 milhões desde 2013. Especialistas destacam que, mesmo com o aumento no número de inscritos, o Brasil ainda carece de políticas efetivas para expandir o acesso às instituições de ensino superior públicas.
Os dados apontam que as universidades privadas abrigam mais de 80% dos estudantes de ensino superior, o que intensifica a desigualdade de acesso à educação de qualidade. A diminuição dos programas de bolsas federais, como o Prouni e o Fies, contribui ainda mais para essa disparidade. Em 2023, o Prouni atingiu seu menor patamar com apenas 403.735 alunos beneficiados, uma queda drástica em relação a 2017, quando mais de 609 mil estudantes foram atendidos. Em contrapartida, o Fies teve apenas 177 mil beneficiados no ano passado, quando já chegou a mais de 1,3 milhão em 2015.
Salomão Ximenes, professor da UFABC, ressalta a importância do aumento no número de inscrições do Enem, mas adverte que sem políticas que garantam o acesso ao ensino, especialmente nas instituições públicas, a esperança dos jovens pode se tornar uma miragem. O atual governo, liderado pelo presidente Lula, prometeu uma ampliação das universidades federais, no entanto, enfrenta dificuldades orçamentárias que comprometem tais iniciativas.
De acordo com a Folha, diversas universidades federais em todo o Brasil estão com obras paradas e projetos abandonados devido à redução do orçamento nos últimos anos. Isso resulta na incapacidade de preencher as vagas que foram planejadas.
Andressa Pellanda, coordenadora-geral da Campanha Nacional pela Educação, destaca a necessidade de um diagnóstico sobre demanda e investimentos nas universidades e defende a importância de políticas de permanência estudantil. Os dados do Censo do Ensino Superior revelam que, no ano passado, 25,8% das novas vagas nas universidades federais não foram preenchidas, além de 81,3% das vagas remanescentes não serem reocupadas após desistências.
A falta de recursos para garantir a permanência dos alunos em seus cursos é apontada como uma das principais razões para a ociosidade das vagas. Pellanda enfatiza a necessidade de políticas que incluam auxílio para alimentação, transporte e moradia, para que os estudantes tenham melhores condições de se dedicar à sua formação superior.
Além disso, especialistas apontam que a reestruturação das políticas atuais é essencial para que mais estudantes possam acessar a universidade e finalizar seus cursos. Nos últimos dois anos, houve uma valorização da educação refletida nos números do Enem, mas para que essa realidade seja sustentável, é fundamental que sejam criadas mais vagas públicas e ações de apoio aos alunos dentro das universidades.