Eleições 2024: O Futuro do Bolsonarismo Após as Urnas
2024-10-28
Autor: Fernanda
As eleições municipais de 2024 resultaram em um fortalecimento significativo do bolsonarismo, evidenciado pela escolha de 516 prefeitos, incluindo capitais como Aracaju, Cuiabá, Maceió e Rio Branco, além de um vice-prefeito na maior cidade do país, São Paulo, e a impressionante vitória de 4.957 vereadores, um aumento de 43,1% em relação às eleições de quatro anos atrás.
O Partido Liberal (PL), que representa a ideologia de Jair Bolsonaro, emergiu como um dos grandes vitoriosos desta eleição. A análise de especialistas políticos sugere que o cenário é favorável para o bolsonarismo, embora existam divisões internas mais aparentes. Camila Rocha, especialista em bolsonarismo e diretora do Center for Critical Imagination do Cebrap, enfatiza que "esse campo realmente conseguiu um sucesso importante nas eleições".
Entretanto, ao lado desse crescimento, a disputa interna ficou mais evidente, permitindo que outras lideranças de direita, como Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo) e Ronaldo Caiado (governador de Goiás), ganhassem espaço, ampliando sua influência política. Desde a vitória de Bolsonaro em 2018, a estrutura da direita radical tem se fragmentado. Algumas partes procuram se integrar à política tradicional, enquanto outras se tornaram mais extremistas, como o exemplo do candidato Pablo Marçal (PRTB), que defende um discurso antissistema e fortemente religioso.
Essa fragmentação reflete a diversidade do eleitorado bolsonarista. Em 2018, Bolsonaro conseguiu unir um leque variado de apoiadores, que inclui desde os antipetistas até liberais e conservadores voltados para temas de costumes. Este ano, a luta pela limitação de espaço dentro do campo bolsonarista se tornou mais visível, como se viu nas candidaturas em São Paulo e Curitiba, onde múltiplos candidatos tentaram se associar ao ex-presidente durante a campanha.
Em São Paulo, o PL teve papel fundamental ao indicar o vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes (MDB), que foi reeleito, enquanto Marçal se apresentava como o "bolsonarista raiz". No estado do Paraná, a situação foi semelhante com o PL, que também teve um candidato a vice em uma chapa vitoriosa. A transformação do PL não está apenas nas eleições, mas reflete uma reorganização significativa do bolsonarismo no tecido político brasileiro.
Ao mesmo tempo, a eleição de candidatos mais jovens e inovadores, como o deputado Nikolas Ferreira em Minas Gerais, mostra a nova dinâmica do PL, que se adapta para conquistar novas bases. Os especialistas mencionam que, ao se distanciar do discurso tradicional militarista, certas correntes do bolsonarismo estão se avizinhando de um modelo neoliberal mais moderno.
Além disso, a mudança estrutural do PL foi impulsionada por novas regras eleitorais, incluindo o financiamento público de campanhas, onde o PL foi o partido que recebeu a maior fatia de R$ 886 milhões, e a cláusula de barreira que incentivou novas uniões entre partidos pequenos.
Mas qual é a situação de Jair Bolsonaro após essas eleições? Apesar do fortalecimento das candidaturas ligadas ao seu nome, a posição do ex-presidente permanece delicada devido à sua inelegibilidade até 2030. O PL, sob a liderança de Valdemar Costa Neto, tenta buscar sua anistia para que ele possa concorrer novamente. Entretanto, a derrota em disputas em Goiânia, onde o candidato apoiado por Bolsonaro foi derrotado, e a rivalidade crescente com outros líderes de direita, como Ronaldo Caiado, levantam questões sobre o futuro do bolsonarismo.
Caiado, que já foi aliado de Bolsonaro, agora defende, publicamente, que a direita não deve centralizar em uma única liderança, deixando claro que a próxima eleição deverá ter múltiplos candidatos disputando representações diferentes dentro do espectro da direita. Isso indica uma potencial fragmentação que poderá mudar o cenário político brasileiro nos próximos anos.