Uma grave investigação está em andamento na pequena cidade de São Benedito do Rio Preto, no Maranhão, com apenas 18 mil habitantes, que ostenta o inédito título de ter o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Brasil para o ensino fundamental do 1º ao 4º ano.

Desde janeiro de 2023, o município recebeu uma quantia expressiva de R$ 91 milhões do Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Criado em 2007, o Fundeb destina-se exclusivamente à melhoria da educação básica pelo país, mas em São Benedito do Rio Preto, a realidade parece ser bem diferente.

Evidências revelam que nas escolas locais, as condições para os alunos são alarmantes: um ônibus em condições deploráveis é utilizado para o transporte dos estudantes em uma das instituições, enquanto em outra, a ausência total de transporte força crianças a percorrer longas distâncias a pé, somando impressionantes seis quilômetros. Em uma terceira escola, um buraco no meio da sala representa um verdadeiro risco de acidentes, com um estudante alertando: "É arriscado quebrar as pernas pisando nele".

Por lei, 70% dos recursos do Fundeb devem ser destinados ao pagamento de educadores. Os 30% restantes devem ser aplicados em despesas diretas com a educação, como a manutenção dos edifícios escolares e aquisição de material didático. Contudo, documentos em posse das autoridades locais indicam que uma parte substancial desses recursos foi desviada para fins pessoais.

O prefeito da cidade, Wallas Rocha, que pertence ao partido Republicanos e foi reeleito recentemente, enfrenta sérias acusações de corrupção. Na época das eleições, surgiram várias denúncias referentes à má gestão financeira da prefeitura, amplamente divulgadas na mídia local.

Uma investigação jornalística conduzida pela equipe do programa Fantástico expôs a situação e desdobrou investigações por parte de órgãos públicos. A equipe teve acesso a todos os extratos da conta do Fundeb de janeiro de 2023 até julho deste ano. Surpreendentemente, 11 familiares do prefeito e de sua esposa, Brenda Gabrielle Nunes da Silva, foram identificados como beneficiários dos recursos do Fundeb, recebendo ilegalmente somas que ultrapassam R$ 317 mil.

Tentativas de contato com o prefeito, a primeira-dama, o secretário de Educação Jairo Frazão e o vereador Irmão Valter não tiveram sucesso até o momento, sem que uma resposta oficial tenha sido fornecida. Ao todo, a investigação revela que mais de R$ 13 milhões foram desviados da educação ao longo de quase dois anos, e aqueles que cederam suas contas bancárias para esse esquema de desvio também estão sob investigação.

A situação em São Benedito do Rio Preto levanta um sério questionamento sobre a gestão pública e o futuro da educação na região. As autoridades e a população esperam que medidas rigorosas sejam tomadas para que a justiça seja feita e que os recursos destinados ao ensino e ao bem-estar das crianças sejam recuperados.