Desvalorização do Real: O Que Está Por Trás da Saída em Massa de Investimentos para os EUA?
2024-12-25
Autor: Gabriel
A recente desvalorização do real, impulsionada por preocupações fiscais no Brasil e pelo fortalecimento do dólar com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, gerou uma verdadeira debandada de investimentos do Brasil para o exterior. Esse movimento, que parece ser um novo padrão, já está refletindo em números alarmantes.
Na corretora americana Avenue, que tem o Itaú Unibanco como sócio, o volume de transferências cresceu impressionantes 20% em dezembro em comparação a novembro, um período tipicamente fraco devido às festividades de fim de ano.
Roberto Lee, fundador e CEO da Avenue, em uma entrevista exclusiva, comentou: “A percepção de risco Brasil se tornou mais evidente para os investidores locais, resultando em uma migração em massa de recursos para fora do país. Esperamos um aumento de 20% a 25% em dezembro." Ele observou que o perfil do investidor que está buscando segurança nas aplicações está mudando, com um aumento significativo da presença de investidores conservadores.
Este público conservador está reagindo ao aumento do dólar de maneira reversa, conhecido no jargão financeiro como "flight to quality" ou "vôo para a qualidade" – buscando opções mais seguras à medida que o risco local aumenta. De acordo com Lee, “mais de 80% dos recursos enviados para os EUA estão sendo aplicados em títulos superconservadores, como os 'Treasuries', que têm visto seus rendimentos aumentarem desde a vitória de Trump".
Dados do Banco Central mostram que o estoque de investimentos de brasileiros em ativos no exterior superou a marca de US$ 10,6 bilhões até novembro de 2023, mais que o dobro do montante registrado no ano inteiro anterior. O recorde histórico foi de aproximadamente US$ 15,4 bilhões em 2011, conforme dados que remontam até 1995.
Além disso, a expectativa de que o Federal Reserve (Fed) relaxe menos os juros em 2025 também ajuda a atrair mais recursos brasileiros. Contudo, o que realmente impulsiona essa retirada de ativos é a instabilidade fiscal no Brasil, exacerbada por medidas consideradas insuficientes para combater o crescimento da dívida pública, forçando o Banco Central a apertar as condições financeiras.
Embora as taxas de juros elevadas no Brasil normalmente atraiam investimentos, o aumento da aversão ao risco está convertendo este cenário em um empurrão para o capital sair do país. A recente elevação do Credit Default Swap (CDS) de 5 anos do Brasil para 218 pontos – o maior nível desde março de 2023 – demonstra isso claramente.
Lee explicou que esse fluxo de capital da Avenue é inédito e possui características estruturais, indicando que a tendência de migração de recursos deve persistir mesmo que o câmbio se estabilize no futuro. Ele acredita que o crescimento da conscientização sobre a diversificação de investimentos no exterior está contribuindo para essa tendência, e que a concorrência no setor de corretoras pode ser benéfica nesse sentido.
Se o ritmo atual de transferências for mantido, a Avenue tem potencial para triplicar o montante sob custódia até 2025. Lee, que já fundou outras corretoras de sucesso, como a WinTrade e a Clear, que foi vendida à XP, reforçou que a Avenue está ampliando sua influência com o apoio do Itaú.
O futuro acirrado entre os acionistas da Avenue também pode trazer mudanças. Em dezembro de 2025, o Itaú pode aumentar sua participação de 35% para 50,01%, conforme acordos prévios já estabelecidos. Isso significa mais recursos e tecnologia para a Avenue, que já conta com parcerias com fundos internacionais, como o SoftBank.
Caso o Itaú não exerça seus direitos, Lee sugere que a Avenue poderia seguir um caminho natural de abertura de capital nos EUA nos próximos cinco anos, possivelmente mirando a Nasdaq. Essa é uma tendência preocupante que pode intensificar a saída de investimentos do Brasil. O que você acha disso? Você também buscaria segurança no exterior?