De empresas de fachada a fintechs: como policiais estão lavando dinheiro do PCC
2024-12-24
Autor: Fernanda
Nos últimos meses, o Brasil tem visto um aumento na exploração de fintechs, onde circulam quantias exorbitantes de dinheiro, sendo muitas vezes provenientes de atividades ilícitas. Um caso alarmante é o da operação Dólar Tai-pan, conduzida pela Polícia Federal (PF), que expôs um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro envolvendo policiais e crimes.
No centro das investigações está a fintech 2GO, que movimentou mais de R$ 4 bilhões em apenas três anos e atraiu aproximadamente 20 mil clientes. Contudo, a trama se complica ao se descobrir que muitos destes clientes utilizam a plataforma para ocultar a origem criminosa de seu dinheiro, em uma tentativa desesperada de fugir da justiça.
Os criminosos, segundo os investigadores, estão usando a 2GO para realizar transações que lhes permitam adquirir bens de luxo, sem deixar rastros. Com declarações bombásticas, o empresário Antônio Vinicius Gritzbach, um colaborador da justiça, revelou que os gestores do PCC utilizavam a fintech para viabilizar transações imobiliárias que envolviam valores que não poderiam ser pagos em espécie. Assim, a fintech tornou-se um intermediário crucial nas operações financeiras da facção.
Gritzbach também mencionou que Elia, o proprietário da 2GO, possuía 'sócios ocultos' do PCC, como Rafael Maeda e Anselmo Santa Fausta. Estes indivíduos foram identificados como forças fundamentais nas operações da facção e morreram em uma guerra interna pelo controle do tráfico. Essa conexão direta entre oficiais da lei e do crime organizado é alarmante e revela as falhas no sistema que permitem tais relações.
Pesquisadores e promotores têm alertado para a falta de regulamentação das fintechs, que as tornam um verdadeiro paraíso para a lavagem de dinheiro: "Não há exigência de verificação de documentos para abertura de contas e, portanto, as transações parecem ser invisíveis ao sistema legal" explica um investigador.
Dentre os policiais envolvidos, destaca-se o ex-sargento Farani Salvador Freitas da Rocha Júnior. Suas movimentações financeiras, que totalizam mais de R$ 1,5 milhão entre 2015 e 2020, não condizem com seu salário de apenas R$ 4 mil. Menos de dois anos após ter sido absolvido por homicídio, Farani agora enfrenta novas investigações quanto à sua conexão com o PCC e lavagem de dinheiro.
Além dele, outros policiais como Valdenir Paulo de Almeida e Valmir Pinheiro estão sendo julgados por um esquema de ocultação de valores gerados pelo tráfico de drogas. Juntos, eles operavam um complexo emaranhado de empresas sem funcionamento real, criadas somente para dar suporte a esse esquema criminoso.
Esses escândalos vão muito além do que se pensava inicialmente sobre as fintechs e sua função no sistema financeiro. A situação atual exige um olhar atento das autoridades reguladoras e do público, pois envolve não apenas a segurança pública, mas também um questionamento profundo sobre a confiança em instituições financeiras no Brasil. A pergunta que fica é: até onde irá essa imensa rede criminosa que permeia as forças de segurança do país?