As bebidas energéticas, que se tornaram um verdadeiro fenômeno nos anos 2000, contam com uma estratégia de marketing que visava o público que vive em ritmo acelerado. Com o aumento das demandas diárias, especialmente entre os jovens profissionais e estudantes, o consumo de energéticos se consolidou como parte da rotina dos brasileiros.

De acordo com a analista de mercado Scanntech, as vendas desses produtos cresceram cerca de 15% entre janeiro e agosto de 2024 em relação ao mesmo período do ano anterior. Nos últimos 10 anos, a produção de energéticos no Brasil mais que dobrou, saltando de 63 milhões para 151 milhões de litros por ano. Já o consumo médio por pessoa também acompanhou esse crescimento, subindo de 300 ml para impressionantes 710 ml por pessoa.

O professor Fernando Asbahr, psiquiatra coordenador do Ambulatório de Ansiedade na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP, destaca a relação preocupante entre o consumo elevado de energéticos e problemas de saúde mental. "Estudos recentes sugerem que o alto consumo de energéticos está relacionado ao aumento da ansiedade, sintomas depressivos e comportamentos de risco. Embora não possamos afirmar uma relação de causa e efeito, é inegável que essa ligação é relevante para a saúde mental da população", alerta Asbahr.

Concentração de Cafeína

Os riscos associados ao consumo excessivo de energéticos são alarmantes. A cafeína, um dos principais ingredientes, é encontrada em concentrações muito mais elevadas do que em um simples café. Segundo o psiquiatra, os efeitos nocivos à saúde mental podem estar intimamente ligados a essa substância. "A cafeína é um potente estimulante do sistema nervoso central e o seu uso excessivo pode trazer consequências sérias", explica.

Em resposta ao crescente problema, a União Europeia adotou uma normativa obrigatória para rotulagem de bebidas energéticas que contenham mais de 150 miligramas de cafeína por litro. Os rótulos devem alertar para o 'Alto teor de cafeína' e não serem recomendados para crianças, gestantes ou lactantes. De acordo com a ANVISA, um adulto não deve consumir mais do que 400 mg de cafeína por dia, e muitos energéticos contêm a partir de 300 mg/l.

O uso de energéticos não se restringe apenas à diversão. Muitos jovens e trabalhadores estão usando essas bebidas como uma forma de aumentar a produtividade, especialmente ao estudar longas horas para exames. Isso, por sua vez, tem elevado os níveis de consumo e, consequentemente, os riscos associados à saúde mental.

É fundamental que a população esteja atenta aos sinais de alerta e repense o uso de energéticos em suas rotinas. Uma vida saudável não depende apenas do aumento de energia, mas também do cuidado com a saúde mental em um mundo cada vez mais exigente.