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Cristãos em Gaza: Celebrando o Natal sob risco de extinção: 'Ainda estamos aqui'

2024-12-25

Autor: Pedro

Em meio a um dos conflitos mais devastadores da história recente, a comunidade cristã em Gaza luta para celebrar o Natal nas poucas igrejas que restam, sem perder a esperança. Souri, de 47 anos, revelou: "Este ano, realizaremos nossos ritos religiosos, mas ainda estamos de luto e tristes demais para comemorar plenamente. Apenas rezamos pela paz."

Após a intensificação da guerra, que já vitimou milhares de inocentes, a situação da população de Gaza se agrava a cada dia. Um relatório alarmante indicou que apenas 12 caminhões com água e alimentos conseguiram entrar no norte de Gaza desde outubro.

O pontífice católico, Papa Francisco, não hesitou em condenar a "crueldade" da guerra, especialmente após recentes ataques israelenses que resultaram na morte de dezenas de civis. Dentro de suas comunidades, os cristãos palestinos se refugiaram em duas igrejas centenárias: a Igreja de São Porfírio e a Igreja da Sagrada Família. Contudo, muitos temem que a presença cristã em Gaza, estabelecida há 1.600 anos, esteja prestes a desaparecer.

Em meio a essa tragédia, aproximadamente 800 a 1.000 cristãos permanecem na região, e centenas já fugiram para o Egito, Canadá e Austrália. Enquanto os católicos celebram o Natal no dia 25 de dezembro, os ortodoxos o fazem em 7 de janeiro, criando uma diversidade de tradições e esperanças. Para o reverendo Munther Isaac, que vive na Cisjordânia, a situação é crítica. Ele observa que muitos cristãos, antes determinados a ficar, estão reconsiderando sua permanência após a destruição de suas casas.

"O futuro da presença cristã em Gaza está sendo ameaçado", alertou Kamel Ayyad, um funcionário da Igreja de São Porfírio que agora se encontra no Egito. "Amo minha terra natal, mas não planejo voltar até que a situação melhore."

Antes do conflito, a comunidade cristã em Gaza era composta por profissionais bem-sucedidos e seus filhos frequentavam escolas renomadas como a da Sagrada Família. O Papa Francisco, visivelmente angustiado com a situação, frequentemente se comunica com membros dessa comunidade, clamando por cessar-fogo e empatizando com sua dor.

"O cenário aqui é desolador", disse Ayyad. "Nossos vizinhos simplesmente desejam escapar desse inferno. Saímos de festas vibrantes para um ambiente de desespero e tristeza."

A permissão do Hamas para a celebração de feriados cristãos é vista como uma espada de dois gumes, onde a liberdade é restrita e a insegurança é prevalente. Em comparação aos anos anteriores, a dinâmica da comunidade foi drasticamente alterada. A luta pela sobrevivência em meio a bombardeios constantes trouxe um sentimento de desolação e perda.

Os ataques israelenses se tornaram mais frequentes, e muitos cristãos que costumavam se reunir e celebrar publicamente agora se encontram em um estado de medo. Recentemente, um ataque aéreo próximo à Igreja de São Porfírio resultou em muitas mortes, comprovando a vulnerabilidade da comunidade em um cenário de guerra.

"Estamos vivendo em meio a um ciclo interminável de violência e destruição", afirmou Khalil Sayegh, um analista político local. A verdadeira preocupação é que a comunidade cristã possa ser extinta, somando-se à tragédia de tantas outras vidas perdidas.

Na tentativa de manter viva a tradição natalina, alguns cristãos conseguiram preparar o burbara, um pudim de trigo que simboliza a esperança e resiliência. Em uma ação comunitária, conseguiram organizar a divisão de porções entre os necessitados, reafirmando que, apesar de tudo, "ainda estamos aqui". Em um momento em que as batalhas ravem tudo à sua volta, o espírito de solidariedade e a fé permanecem, e a comunidade cristã resiste, mesmo em meio ao luto e à desolação.