Uma criança de apenas 10 anos que se reunia com a família para celebrar o Natal em Torres, no Litoral Norte, finalmente recebeu alta do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes na noite desta sexta-feira (3). O menino estava internado desde a véspera de Natal, após ingerir um bolo que teria causado uma séria intoxicação ou envenenamento. Ele chegou a ser acomodado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) devido à gravidade do seu estado.

As investigações policiais revelaram a presença de arsênio no sangue das vítimas após exames realizados no hospital. Este contaminante é conhecido por sua toxicidade extrema e pode ser letal, embora a origem da contaminação ainda permaneça um mistério. A mulher responsável pela preparação do bolo, identificada como Zeli dos Anjos, de 60 anos, continua em estado estável na UTI.

Em um ato tocante, enquanto esteve hospitalizado, o menino escreveu uma carta pedindo orações por sua mãe, sua madrinha e sua avó, que não resistiram e faleceram. No texto, dirigido a padres da paróquia freqüentada pela família, ele expressou seu desejo de que seus entes queridos descansassem em paz, refletindo a força e a inocência da infância, mesmo em momentos tão difíceis.

A comunidade, ao saber do ocorrido, se mobilizou em orações por ele e pelas vítimas, demonstrando solidariedade e apoio. O padre Leonir Alves, que recebeu a carta, ficou emocionado com as palavras da criança e fez questão de compartilhar o pedido durante uma missa, unindo a congregação em orações.

A tragédia, que resultou na morte de três mulheres da mesma família – Neuza Denize Silva dos Anjos, Maida Berenice Flores da Silva e Tatiana Denize Silva dos Anjos – despertou uma intensa investigação policial. O delegado Marcos Vinícius Veloso relatou que o gosto do bolo já despertou desconfiança entre os familiares, que perceberam um sabor estranho e apimentado logo nas primeiras mordidas. O aviso de Zeli, que tentou interromper o consumo, chegou tarde demais, pois muitos já estavam apresentando sintomas graves.

Os laudos periciais sobre o bolo, aguardados para a próxima semana, devem esclarecer se houve contaminação ao longo do preparo. A Polícia Civil já ouviu cerca de 15 depoimentos relacionados ao caso. Zeli dos Anjos será interrogada assim que sua condição de saúde permitir.

Os exames preliminares já confirmaram a presença de arsênio no sangue do sobrinho-neto de Zeli, a criança que sobreviveu, além de Neuza, que faleceu. A investigação avança em busca da origem da substância tóxica. No entanto, relatos de que a família mantinha boas relações e não teria motivos para disputas patrimoniais podem complicar a busca pela verdade.

O arsênio, uma substância extremamente tóxica utilizada em diversos contextos, incluindo como raticida, levanta preocupações sobre segurança alimentar e a necessidade de vigilância na preparação de alimentos, especialmente em grandes reuniões familiares.

Além da dor causada pelas perdas irreparáveis, essa situação expõe a vulnerabilidade das famílias diante de tragédias inesperadas, levantando questões sobre a segurança nos lares e a importância de cuidados ao manusear alimentos.