Tecnologia

Como o iPhone e o Android Derrubaram a BlackBerry do Mercado de Celulares

2024-10-01

Em outubro de 2010, em uma teleconferência sobre os resultados financeiros de sua empresa, Steve Jobs revelou que a Apple havia vendido mais smartphones que a RIM (Research In Motion), criadora dos icônicos aparelhos BlackBerry. Com 14,1 milhões de unidades vendidas, a Apple superou a concorrente em 2 milhões de unidades, algo que prenunciava um golpe significativo para a BlackBerry.

Jobs, confiante, declarou: “Agora que ultrapassamos a RIM, não vejo eles nos alcançando no futuro, pois eles precisam se transformar em uma empresa de software.” Essa afirmação foi um alerta sobre o que estava por vir: a BlackBerry estava prestes a enfrentar a mais severa crise de sua história.

A Ascensão do iPhone

Lançado em 9 de janeiro de 2007, o iPhone provocou uma revolução no mercado de celulares. O dispositivo, que promoveu o uso de telas sensíveis ao toque em detrimento dos teclados físicos, fez com que a BlackBerry, conhecida por seu famoso teclado QWERTY, visse sua popularidade despencar. O BlackBerry 8300 Curve, lançado simultaneamente ao iPhone, não conseguiu acompanhar a inovação trazida pelo novo smartphone da Apple.

A Apple rapidamente se tornou a segunda maior fabricante de smartphones nos Estados Unidos até janeiro de 2014, enquanto a BlackBerry despencou para a décima posição, perdendo espaço até para marcas como Yulong e Lenovo.

O Desespero com o Lançamento do Storm

A tentativa da BlackBerry de contornar a crescente crise foi desastrosa. Em 2008, lançaram o BlackBerry Storm, o primeiro smartphone da marca com tela sensível ao toque, numa estratégia para rivalizar com o iPhone. O resultado foi, no mínimo, frustrante: o aparelho enfrentou sérios problemas de usabilidade, e a famosa qualidade da marca ficou comprometida. Embora o Storm tenha vendido bem no início, logo foi criticado impiedosamente por seus bugs e falhas constantes. Chegou ao Brasil em 2009, em uma parceria com a TIM, sendo oferecido a R$ 1.600, com serviços adicionais custando R$ 70 por mês.

Jornalistas, como David Pogue do New York Times, condenaram o lançamento, considerando o abandono do teclado físico uma grande falha. A ideia de um touchscreen com feedback tátil não se concretizou em um bom produto, e a imagem da BlackBerry ficou arranhada de forma irreparável.

Erros Estratégicos da BlackBerry

Um dos maiores erros foi não levar a sério a ameaça que o iPhone representava. Conforme relatado no livro *Losing the Signal*, os executivos da BlackBerry estavam convencidos de que a segurança e a eficiência de seus dispositivos prevaleceriam sobre a nova proposta da Apple. Em 2007, a BlackBerry estava em uma posição confortável com o sucesso do seu dispositivo Pearl, mas a maré virou rapidamente.

A Apple, com seu marketing inteligente, conseguiu criar uma imagem de modernidade e atratividade, fazendo com que o iPhone se tornasse um fenômeno global. Com a chegada da App Store em 2008, a Apple não apenas aumentou suas vendas, mas também iniciou uma revolução no desenvolvimento de aplicativos, tornando o iPhone ainda mais desejável.

O Impacto dos Aparelhos Touchscreen

O mercado foi abruptamente alterado pela revolução touchscreen da Apple. As operadoras de telefonia começaram a se distanciar dos dispositivos com teclados físicos, uma realidade que deixou a BlackBerry em desvantagem. Em resposta, tentaram melhorar sua tecnologia touch, num esforço para simular a sensação do teclado físico, o que culminou no fracasso do Storm.

A Queda da BlackBerry

A partir de 2008, a participação da Apple no mercado de smartphones cresceu para 17%, enquanto a da BlackBerry caiu de 45% para 40%. Durante esse período, o iPad também dominou o mercado de tablets, efetivamente aniquilando as tentativas da BlackBerry de entrar nesse segmento com o PlayBook.

Em 2013, a RIM trocou oficialmente seu nome para BlackBerry, mas a transição não foi suficiente para reverter o declínio. O impacto crescente do Android, uma plataforma adotada por várias fabricantes de smartphones, foi um golpe a mais. O Android rapidamente se consolidou como a principal plataforma do mercado, enquanto a BlackBerry lutava para manter sua relevância.

Apesar de algumas tentativas de reestruturação, como o lançamento de dispositivos que rodavam Android, a BlackBerry acabou por vender suas patentes por US$ 600 milhões em 2022, confirmando sua saída do mercado de celulares.

Novo Foco em Robótica

Atualmente, a BlackBerry está focando suas energias no desenvolvimento de software, especialmente para o setor de robótica. Em uma recente parceria com a AMD, a empresa tem trabalhado para criar sistemas que melhoram o desempenho e a escalabilidade em dispositivos robóticos, numa tentativa de se reinventar e deixar para trás o legado de sua era gloriosa entre os smartphones. Será que a BlackBerry conseguirá encontrar um novo caminho e se reinventar mais uma vez no universo da tecnologia?