Ciência

Como Ajudar uma Amiga: Enfrentando o Parceiro Abusivo Sem Invadir

2025-09-08

Autor: Matheus

Quando o Mal-estar Se Torna uma Preocupação Real

Camila Santos, uma jornalista de São Paulo, lembra que ainda na infância percebeu o comportamento agressivo do marido de sua tia. Inicialmente, achou que era apenas um tipo de forte. Com o tempo, ficou claro que era uma tentativa de diminuir a felicidade e a independência dela, manifestando-se através de desrespeito e humilhações.

Rosangela Matos, psicanalista e especialista em relacionamentos, explica que a dor de ver alguém querido numa relação opressora ativa uma tensão interna. Por um lado, existe a vontade de ajudar e, por outro, a consciência de que não se pode controlar as decisões afetivas dos outros. Essa impotência pode ser dolorosa, já que revela nossos limites quando se trata do sofrimento alheio.

Sinais de Alerta e o Papel dos Amigos

A família e amigos, distantes da dinâmica emocional, costumam perceber os sinais de alerta com mais clareza. A terapeuta destaca que quem está envolvido tende a se apegar às memórias dos bons momentos, sustentando a relação através de um ciclo de tensões e reconciliações que podem mascarar a verdadeira situação.

Preocupações se tornam legítimas quando há consequências reais como perda de autoestima, isolamento social e até violência, que mesmo minimizada, demanda atenção e, em casos extremos, intervenção judicial.

Como Intervir e Oferecer Apoio

É comum ouvir que "em briga de marido e mulher não se mete a colher", mas essa abordagem frequentemente protege o agressor e não a vítima. A forma de abordar a questão deve ser cuidadosa, com questionamentos reflexivos que evitem julgamentos.

Maria Elisa Bravo Campos, psicóloga, enfatiza que apoiar é estar presente, ouvir e validar sentimentos, lembrando que a pessoa tem opções. Wimer Bottura, psiquiatra, acrescenta que é importante levantar a autoestima da amiga para que ela perceba que merece melhor.

Pequenos Gestos Fazem a Diferença

Gestos simples, como enviar mensagens ou convidar para passeios, comunicam que a pessoa não está sozinha e ajudam a enfraquecer a estratégia do isolamento comum em relações abusivas. Lorraine, que passou pela experiência, reconhece que um suporte acolhedor e não crítico foi essencial.

Camila, ao refletir sobre suas observações, percebeu que a maioria da família preferiu ignorar os problemas. Após um incidente grave, onde sua tia levou um soco ao tentar proteger o filho, Camila incentivou-a a denunciar, mas sem sucesso, evidenciando a dificuldade de romper o ciclo de abusos.

Entendendo os Desafios e Oferecendo um Apoio Consciente

Existem fatores que dificultam a ruptura, muitas vezes enraizados em padrões familiares. A capacidade de um indivíduo identificar uma relação saudável é frequentemente ofuscada por crenças de desvalorização.

Bottura sugere que a comunicação deve ser um jogo de troca, não uma disputa. É através da escuta que surgem caminhos para soluções.

O Tempo Certo para Cada Um

Camila acredita que, ao demonstrar apoio, ajudou sua tia a recuperar gradualmente a força necessária para a separação. Ela aprendeu que cada um tem seu tempo e que a pressão, mesmo que bem-intencionada, pode ser contraproducente.

Essa vivência a marcou, mostrando que a violência se manifesta de diversas formas e que todas deixam cicatrizes. Se pudesse voltar no tempo, ela optaria por buscar mais apoio externo para que sua tia não se sentisse sozinha nesse processo.