Desde a sua aprovação em 2017 para o tratamento da diabetes tipo 2, os medicamentos análogos ao hormônio GLP-1, conhecidos popularmente como "canetinhas emagrecedoras", estão ganhando cada vez mais destaque no combate à obesidade. Um novo estudo publicado na renomada revista Nature Medicine analisou dados de 2,4 milhões de usuários e concluiu que esses medicamentos podem reduzir o risco de 42 problemas de saúde. No entanto, o estudo também identificou 19 intercorrências que necessitam de atenção.

Os pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis ressaltam que, embora seus estudos sejam observacionais e não demonstrem causa e efeito, a robustez dos dados coletados oferece informações valiosas. O autor principal, Ziyad Al-Aly, enfatizou a importância de investigar os efeitos desses medicamentos em todos os sistemas do corpo humano, especialmente considerando sua crescente popularidade entre pacientes e médicos.

O estudo mapeou as associações do GLP-1 com vários sistemas orgânicos, produzindo um "atlas abrangente" que revela tanto os benefícios quanto os riscos associados ao uso desses fármacos. Os resultados indicam que os medicamentos podem ter um impacto positivo significativo na saúde neurológica e comportamental dos usuários. Aqueles que utilizaram as "canetinhas" apresentaram uma diminuição nas taxas de convulsões, dependência de substâncias como álcool, e uma diminuição preocupante em casos de suicídio e transtornos alimentares como bulimia.

Apesar desses benefícios animadores, os pesquisadores alertam sobre a magnitude modesta dos efeitos positivos, geralmente de 10% a 20%. Al-Aly observa que, para condições onde existem poucas opções eficazes de tratamento, como a demência, os medicamentos GLP-1 podem representar uma alternativa valiosa, especialmente se combinados com mudanças no estilo de vida e outras terapias.

É fundamental entender os mecanismos pelos quais os GLP-1 atuam, especialmente no sistema nervoso central, onde ajudam a regular o apetite e podem melhorar a saciedade. Além disso, destacam-se os efeitos positivos na saúde cardiovascular e a potencial proteção contra doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

No entanto, é crucial que os usuários sejam monitorados quanto a efeitos adversos, como náuseas e desconfortos gastrointestinais, que são bastante comuns no início do tratamento. Os especialistas alertam também para a possibilidade de pancreatite e problemas renais, enfatizando a necessidade de supervisão médica constante.

Embora os benefícios em perda de peso e controle glicêmico sejam bem documentados, ainda existem áreas que pedem mais pesquisas. O estudo revela que a utilização prolongada de GLP-1 pode estar associada ao aumento de riscos gastrointestinais e algumas complicações mais sérias. Conforme a endocrinologista Deborah Beranger, a utilização desses medicamentos deve ser restrita a indivíduos com diabetes, obesidade ou sobrepeso, e não para fins estéticos.

Por fim, é importante destacar que esses medicamentos não são mágicos e devem ser utilizados com cautela. A endocrinologista ressalta que, embora as "canetinhas emagrecedoras" mostrem-se promissoras, o uso responsável e sob supervisão médica é imprescindível para evitar complicações e maximizar seus benefícios.