
'Cenas de horror': Socorrista detalha a exumação de colegas mortos por Israel em Gaza e a realidade devastadora
2025-04-03
Autor: Lucas
'Temo minhas próprias lembranças': Com 10 mil corpos enterrados em Gaza, os socorristas enfrentam um pesado fardo
Contexto: ONU acusa Israel de matar e enterrar 15 paramédicos palestinos em uma vala comum na Faixa de Gaza.
Ibrahim Abu al-Kass, um socorrista do Crescente Vermelho, relatou o horror que enfrentou ao descobrir os corpos de seus colegas em uma vala comum. Em um testemunho ao El País, ele descreveu como o grupo inicialmente utilizou pás para escavar os escombros, mas logo mudou de estratégia ao perceber a gravidade da situação:
"Os disparos não cessaram durante as operações de busca", disse Abu al-Kass, que perdeu sua casa em Gaza devido aos bombardeios e agora vive deslocado em Deir al-Balah. "Os corpos estavam completamente mutilados, com ferimentos por toda parte, brutalmente alvejado a uma distância muito curta. Usamos as mãos para resgatá-los, tentando não danificá-los ainda mais."
Jonathan Whittall, diretor do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), também fez parte da missão de recuperação e descreveu a experiência como "chocante". Ele destacou que as ambulâncias foram alvos dos disparos, o que agravou a situação.
A ONU, através do alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk, manifestou sua indignação ao classificar as ações israelenses como possíveis "crimes de guerra", ressaltando a morte de 15 profissionais de saúde e ajuda humanitária.
"Foram assassinados enquanto tentavam salvar vidas. Exigimos respostas e justiça", afirmou Tom Fletcher, chefe de Assuntos Humanitários da ONU. O Crescente Vermelho classificou o ataque como um "crime de guerra", enquanto a Defesa Civil de Gaza afirmou que muitos corpos apresentavam sinais de atrocidades, como ferimentos à bala em áreas vulneráveis, e um deles estava decapitado.
De acordo com a versão do exército israelense, houve disparos contra veículos identificados como "suspeitos" sem a devida sinalização. Israel afirmou que entre os mortos estavam membros do Hamas, embora as evidências apontem para ataques indiscriminados a socorristas e civis.
A escalada do conflito em Gaza não só causou uma catástrofe humanitária, mas também gerou um debate intenso sobre a eliminação da herança cultural palestina, com patrimônios históricos sendo destruídos em meio aos confrontos. Das 15 vítimas, oito eram do Crescente Vermelho, seis da Defesa Civil, e um funcionário da UNRWA, enquanto há um desaparecido que pode estar sob custódia israelense.
As operações de resgate têm sido extremamente difíceis. Desde 23 de março, as organizações humanitárias vêm tentando acessar a área e recuperar os corpos, mas enfrentam a constante ameaça de tiros. No entanto, em uma tentativa de acesso, a equipe da Ocha encontrou "centenas de civis fugindo sob disparos", e conseguiram resgatar uma mulher baleada após um jovem que a ajudava também ser atingido.
O cumprimento do direito humanitário internacional é crucial, e qualquer ataque a equipes de socorro é uma grave violação das Convenções de Genebra e um crime de guerra, afirmou Basem Naim, uma autoridade sênior do Hamas. Após o resgate no último domingo, o hospital Nasser, em Khan Younis, recebeu os corpos, enquanto dezenas de pessoas se reuniam em luto, mostrando a triste realidade da vida em Gaza.