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Cate Blanchett relata experiências emocionantes após visita a áreas devastadas por enchentes no Rio Grande do Sul

2024-12-19

Autor: Ana

A renomada atriz e produtora australiana Cate Blanchett esteve no Brasil pela primeira vez nesta semana, realizando uma importante missão para o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Sua visita teve como foco as localidades e pessoas que sofreram os impactos das enchentes históricas que atingiram diversas regiões do Rio Grande do Sul em maio, resultando em uma grave crise humanitária.

Durante uma entrevista exclusiva à Folha no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, enquanto aguardava um voo de conexão entre Porto Alegre e Londres, Blanchett expressou seu interesse nas interações entre desastres climáticos e o deslocamento forçado. "Estou muito preocupada com como as mudanças climáticas afetam a vida das pessoas e forçam o deslocamento", afirmou a atriz, conhecida por seu talento no cinema e por suas contribuições sociais.

Cate Blanchett, que já venceu dois Oscars e recebeu outras cinco indicações, utiliza sua plataforma como embaixadora da boa vontade do Acnur, cargo que ocupa desde 2016. Desde então, ela tem se dedicado a trazer à luz as histórias de refugiados, cuja quantidade aumentou drasticamente nos últimos anos, com os números saltando de 65 milhões em 2016 para impressionantes 122 milhões em 2024.

A crise climática é um tema crucial abordado pela atriz, que revela que três em cada quatro refugiados são deslocados para áreas severamente afetadas pelas mudanças climáticas, o que ressalta a importância de políticas voltadas para a mitigação desses impactos. A visita de Blanchett se deu após um pedido de ajuda ao Acnur pelo Governo do Rio Grande do Sul, que, diante das enchentes, necessitou de assistência humanitária. O Acnur, com sua vasta experiência, estabeleceu um escritório emergencial, capacitou autoridades locais em gestão de abrigos e forneceu mais de 300 casas modulares para os afetados.

Recentemente, em outubro, o Rio Grande do Sul se tornou o primeiro estado do Brasil a firmar uma parceria com o Acnur para desenvolver um plano estadual de contingência climática, uma iniciativa que pode servir como modelo para outros estados.

Em suas reflexões, Cate comentou sobre um emocionante encontro com um refugiado haitiano, pai de três filhos, que, após sobreviver ao terremoto no Haiti em 2010, tentou recomeçar a vida no Brasil. No entanto, ele perdeu tudo durante as enchentes de setembro de 2023 e foi novamente devastado pelas enchentes de maio de 2024. "Ele é uma pessoa extraordinária, com uma resiliência incrível, mas as circunstâncias são desumanas", contou Blanchett.

Além disso, a atriz destacou o sofrimento das mulheres refugiadas, como a venezuelana Johanna Moya, que relatou que seus filhos pequenos se traumatizaram com as chuvas fortes. "A dor e o desamparo que essas mães sentem ao cuidar de seus filhos em situações tão extremas são indescritíveis", refletiu.

A gema do discurso de Blanchett também abordou a crescente preocupação com a resposta internacional em relação à crise climática, especialmente após a recente COP29, que frustrou muitos ao não avançar nas soluções necessárias. "É crucial que reconheçamos que as mudanças climáticas afetam a todos, e os países precisam trabalhar juntos para encontrar soluções que incluam todos, especialmente os refugiados", disse.

Finalmente, Cate Blanchett enfatizou a necessidade de que práticas inclusivas e acolhedoras, como as políticas do Brasil, sejam adotadas em todo o mundo. A atriz acredita que países que demonstram solidariedade e aceitação, como o Brasil, têm tudo para se tornarem líderes na busca de soluções para a crise global de deslocamento forçado, enquanto aqueles que tentam se isolar enfrentarão crescente irrelevância.

"O que aconteceu no Brasil deve ser um alerta global sobre o impacto devastador das mudanças climáticas, que não escolhe fronteiras", concluiu.