Caso Gisèle Pelicot: 'Meu pai deveria morrer na prisão'
2025-01-11
Autor: Lucas
'Meu pai deveria morrer na prisão', afirma Caroline Darian, filha de Gisèle Pelicot, em uma entrevista impactante
Em novembro de 2020, em uma noite que mudaria para sempre a vida de Caroline Darian, ela recebeu uma ligação devastadora de sua mãe, Gisèle. Nela, Gisèle revelava ter descoberto que seu marido, Dominique Pelicot, a havia drogado por cerca de uma década para facilitar que outros homens a estuprassem. "Naquele momento, perdi o que era uma vida normal", recorda Caroline, agora com 46 anos.
Dominique Pelicot foi finalmente condenado a 20 anos de prisão após um julgamento que expôs sua natureza predadora. A investigação começou quando ele foi flagrado filmando mulheres em um supermercado, o que levou à descoberta de um arsenal perturbador de vídeos e fotos de Gisèle, claramente inconsciente, sendo abusada por outros homens. A brutalidade do caso não apenas trouxe à tona questões de abuso sexual, mas também destacou a sub-notificação da submissão química, um crime frequentemente invisível e silencioso.
A luta de Caroline não é apenas contra seu pai, mas a favor de todas as vítimas. Ela busca conscientizar a sociedade sobre a gravidade da submissão química, que muitas vezes passa despercebida, pois as vítimas não têm memória das agressões. “Muitas não são acreditadas porque não possuem provas. Elas não são ouvidas nem recebem apoio”, desabafa Caroline, que decidiu transformar sua dor em ativismo, escrevendo um livro. "I'll Never Call Him Dad Again" explora não só o trauma pessoal, mas também questões mais amplas sobre a violência contra a mulher.
Caroline compartilha detalhes dolorosos de sua própria experiência, revelando que acredita ter sido vítima de abuso por parte de seu pai. "Eu sei que ele me drogou, provavelmente para abusar de mim, mas não tenho com o que provar", lamenta, apontando como muitas vítimas enfrentam o mesmo dilema. A resistência de sua mãe em aceitar que o marido também poderia ter agredido a própria filha mostra a complexidade das dinâmicas familiares em casos de abuso sexual.
Gisèle, por sua vez, teve a coragem de abrir o julgamento ao público, permitindo que o horror de sua história fosse exposto e, ao mesmo tempo, unindo-se à filha na luta por justiça. "Sabíamos que era algo horrível, mas era necessário que enfrentássemos isso com dignidade e força."
O trauma deixou profundas marcas em Caroline, que se vê dividida entre ser filha de uma vítima e de um criminoso. "É um fardo terrível", admite. Hoje, ela reconhece que se distancia do homem que um dia chamou de pai, enfrentando o desafio de lidar com sua identidade e as consequências do legado de violência que recebeu.
Dominique Pelicot, agora com 72 anos, pode não ser visto por sua família novamente, já que sua liberdade condicional ainda está distante. Caroline, no entanto, encontra força em seu marido, irmãos e seu filho de 10 anos, que iluminam sua vida com amor e esperança. "Os eventos daquela noite de novembro me moldaram", reflete.
A história de Gisèle e Caroline Pelicot é um lembrete sombrio da luta contra o abuso e da necessidade urgente de dar voz às vítimas. Enquanto Caroline se esforça para olhar para o futuro, seu ativismo e coragem não só buscam justiça, mas também um mundo onde mais mulheres não precisem passar pelo que elas passaram.