A euforia em torno dos carros elétricos no Brasil está se dissipando rapidamente. Embora as vendas de modelos novos estejam em ascensão, a desvalorização severa dos veículos usados tem gerado surpresa tanto entre consumidores quanto entre empresas de frotas.

Consultores automotivos consultados revelam que automóveis 100% elétricos com dois a três anos de uso e baixa quilometragem estão sendo vendidos por até 45% abaixo da tabela Fipe, fazendo com que muitos vejam os carros elétricos como "descartáveis" devido ao alto custo de reposição da bateria.

Cenário preocupante: desvalorização até 47%

Um estudo da Kelly Blue Book (KBB) apontou que, em 2023, os veículos elétricos usados no Brasil desvalorizaram até 47% nos últimos dois anos, especialmente quando comparados a modelos novos. A plataforma Webmotors reportou uma desvalorização média de 12% nos preços dos carros elétricos em 2024, um número quase seis vezes superior aos 2,25% observados em veículos com motor a combustão.

"Acabou sendo um carro para ser descartado"

De acordo com o consultor automotivo Milad Kalume, a durabilidade da bateria é uma das principais preocupações dos compradores de elétricos. Ele afirma que, com a expectativa de vida de cerca de 8 anos para uma bateria elétrica, o custo para a substituição pode ser equivalente ao valor total do veículo, tornando o investimento inviável para muitos. A falta de mão de obra especializada para consertos mecânicos também agrava a situação.

Infraestrutura de recarga: um desafio ainda maior

Cássio Pagliarini, executivo da Bright Consulting, aponta que a escassa infraestrutura de pontos de recarga contribui significativamente para a depreciação dos elétricos no Brasil. Dados de agosto de 2024 indicam que existem apenas 10.622 pontos de recarga, sendo 89% deles de carga lenta, o que causa uma frustração para os motoristas que esperam utilizar seus veículos de forma prática e eficiente.

Carros elétricos de alto valor se desvalorizam menos

Um estudo mais detalhado mostrou que carros elétricos premium acima de R$ 300 mil têm uma desvalorização média de 8% no primeiro ano, enquanto o percentual salta para 15% em veículos mais acessíveis. Essa disparidade é atribuída ao medo dos consumidores em relação à nova tecnologia.

Locadoras de veículos repensam estratégias

Eventos globais também afetam o mercado brasileiro. A Hertz, uma das maiores locadoras do mundo, desistiu de adquirir 100 mil Teslas devido a prejuízos significativos e já iniciou a venda de 20 mil carros elétricos a preços bem abaixo do valor de compra, impactando quase um terço de sua frota nos EUA.

Momentos de adaptação no mercado

A Federação dos Revendedores de Veículos Usados (Fenauto) destaca que o mercado de carros eletrificados ainda está em desenvolvimento e compará-lo ao setor de combustão é prematuro. Entre janeiro e julho de 2024, as vendas de carros eletrificados usados cresceram 90%, totalizando 33 mil unidades. As vendas de veículos a combustão, por sua vez, aumentaram apenas 9%, mostrando que a transição para a mobilidade elétrica ainda enfrenta desafios consideráveis no Brasil.