Nos últimos anos, o carfentanil, um opióide sintético, tem gerado preocupações crescentes entre especialistas em saúde pública. Embora o número de mortes causadas por carfentanil nos EUA seja ainda pequeno quando comparado ao fentanil, a tendência de aumento é alarmante.

Criado pela primeira vez em 1974 pela Janssen Pharmaceuticals, o carfentanil é utilizado principalmente para sedar grandes animais, como elefantes e rinocerontes. Uma quantidade ínfima, de apenas 10 mg, pode ser fatal para um elefante africano. Para se ter uma ideia, o carfentanil é 100 vezes mais potente que o fentanil e entre 10 mil e 100 mil vezes mais potente que a morfina, o que torna seu uso em humanos impraticável e extremamente perigoso.

A descoberta do uso do carfentanil como droga ilícita ocorreu em 2016. Mesmo doses mínimas, como um micrograma, podem provocar euforia, mas também reações graves, como depressão respiratória e danos cerebrais. Especialistas alertam que traficantes frequentemente combinam o carfentanil com heroína, o que potencializa o efeito da droga e aumenta significativamente o risco de overdose.

Além dos riscos diretos aos usuários, houve um aumento dos perigos à saúde ocupacional entre paramédicos e profissionais de saúde, que podem acidentalmente entrar em contato com a substância. A gestão da overdose de carfentanil é um desafio, pois o antídoto naloxona pode ser ineficaz em doses padrão, requerendo múltiplas administrações para reverter os efeitos.

Globalmente, a droga é controlada sob a Convenção Única sobre Entorpecentes das Nações Unidas, com regulamentações rigorosas em vários países. No Reino Unido, é classificada como uma droga de classe A, assim como a heroína e a cocaína. Porém, suas origens ilícitas geralmente se rastreiam até a China, onde é produzida e exportada frequentemente para os EUA através do Canadá ou México. Além disso, começou a surgir uma rede de fornecedores nos EUA que fabricam carfentanil, o que agrava o problema.

Uma questão preocupante é a chamada 're-narcotização', que ocorre porque o carfentanil pode ser armazenado nos tecidos adiposos do corpo e ser liberado gradualmente na corrente sanguínea, causando efeitos tardios que podem ser semelhantes a uma nova overdose. Isso torna o monitoramento e o tratamento das overdoses uma tarefa complexa, já que pode mascarar a real extensão do problema.

Por enquanto, a produção de novos derivados de fentanil parece ter diminuído, mas o carfentanil continua sendo uma ameaça significativa na luta contra as drogas. As autoridades e os profissionais de saúde precisam estar vigilantes e informados sobre os riscos associados a essas substâncias para poderem responder adequadamente a essa crise. O carfentanil é, sem dúvidas, uma droga que merece atenção máxima pelas suas consequências devastadoras.