Saúde

Câncer: EUA propõem rótulos em bebidas alcoólicas alertando sobre riscos à saúde

2025-01-05

Autor: Lucas

Na última sexta-feira (3), Vivek Murthy, cirurgião-geral e principal porta-voz do governo dos Estados Unidos em questões de saúde pública, destacou a urgência de implementar rótulos em bebidas alcoólicas que informem sobre o seu potencial cancerígeno.

Esse alerta é um passo crucial para regular o setor, semelhante ao que já foi realizado com o tabaco, como apontado pela revista Exame.

Murthy afirmou que "a ligação direta entre o consumo de álcool e o risco de câncer está amplamente documentada para pelo menos sete tipos da doença, independente da bebida consumida, seja cerveja, vinho ou destilados".

Os dados são alarmantes: aproximadamente 100 mil casos de câncer e 20 mil mortes anuais nos EUA estão relacionados ao consumo de álcool. O responsável enfatizou que o álcool é a terceira principal causa de câncer evitável, atrás apenas do tabaco e da obesidade.

Essa declaração abalou o mercado financeiro, resultando em quedas de até 3% nas ações de grandes empresas de bebidas alcoólicas, como Diageo, Pernod Ricard, Anheuser-Busch InBev e Heineken.

Em resposta ao apelo de Murthy, o Conselho de Bebidas Destiladas dos Estados Unidos (DISCUS) mencionou um relatório da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina, que destaca que os avisos de saúde já existentes em produtos alcoólicos informam há bastante tempo sobre os potenciais riscos. Amanda Burger, vice-presidente de ciência do DISCUS, reforçou essa posição.

Os tipos principais de câncer associados ao consumo de álcool incluem: 1. Mama; 2. Garganta; 3. Fígado; 4. Esôfago; 5. Boca; 6. Laringe; 7. Cólon.

Atualmente, as diretrizes nos EUA recomendam que homens consumam até duas doses de álcool por dia e mulheres, uma dose ou menos. Contudo, Murthy propôs uma reavaliação dessa recomendação, sugerindo atualizações nos rótulos de advertência, que desde 1988 se concentram apenas nos riscos durante a gravidez e na operação de máquinas.

Além disso, o comunicado sugere o fortalecimento de iniciativas educativas sobre os riscos de câncer relacionados ao consumo de álcool, assim como a intensificação de triagens médicas para identificar o consumo excessivo e uma maior encaminhamento para tratamento em casos de necessidade. A decisão sobre essas alterações caberá ao Congresso dos EUA.

Um ponto a ser destacado é a expectativa pela mudança na liderança de saúde pública, com a possível destituição de Joe Biden e a assunção de Donald Trump, que tem um histórico de se opor ao consumo de álcool em função de uma tragédia pessoal relacionada à sua família. Essa mudança de governo poderá impactar diretamente essa nova legislação proposta.

Além dos EUA, a declaração de Murthy é consistente com o que houve em outras partes do mundo. O relatório Global Status Report for Alcohol and Health da Organização Mundial da Saúde (OMS) já indicava um aumento no número de países que solicitam avisos de saúde nos rótulos de bebidas alcoólicas, saltando de 31 em 2014 para 47 em 2018.

Por exemplo, a África do Sul em 2009 passou a exigir avisos sobre riscos durante a gravidez, enquanto a Coreia do Sul introduziu avisos gráficos sobre os danos à saúde em 2016. A Tailândia implementou um sistema abrangente de rotulagem desde 2010, e a Turquia também tem advertências desde 2013.

No Brasil, a regulação ainda é limitada. Em outubro de 2022, a Anvisa implementou novas regras relacionadas à rotulagem de produtos, mas as bebidas alcoólicas continuam sem exigências robustas, sendo que apenas a informação nutricional é obrigatória.

Além disso, o setor de bebidas alcoólicas enfrenta desafios econômicos nos EUA, já que, embora as vendas tenham crescido durante a pandemia de Covid-19, a tendência é de um declínio, agravado pelas potenciais novas taxas. De acordo com analistas, os novos rótulos de advertência não devem causar um impacto imediato, mas poderão intensificar as ameaças a longo prazo para a indústria.