Brasil Caminha para uma Matriz Energética Menos Renovável: O Que Está por Trás Dessa Decisão?
2024-12-28
Autor: Matheus
Apesar do compromisso do Brasil em reduzir o uso de combustíveis fósseis e diminuir as emissões de gases de efeito estufa, as perspectivas para o setor elétrico nos próximos anos são alarmantes. Projeções da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) indicam que a matriz elétrica brasileira, atualmente uma das mais limpas do mundo, deve se tornar menos renovável, aumentando sua poluição.
Por trás desse cenário preocupante, está a projeção de que as emissões de CO2 equivalente provenientes da geração de eletricidade no Brasil podem aumentar em até 84% até 2034, totalizando 26,9 milhões de toneladas. Isso representa uma queda do grau de renovabilidade da matriz elétrica de 94% para 89%.
Enquanto a maioria dos países tem avançado com a inclusão de fontes renováveis na matriz energética, o Brasil parece ir na direção contrária. Desde 2008, há uma tendência global de aumento na participação de energias renováveis, mas no Brasil, a legislação atual permite a contratação de termelétricas movidas a gás natural, o que contrasta com os compromissos ambientais do país.
A aprovação de um projeto de privatização da Eletrobras, em 2021, introduziu exigências que estabelecem a geração obrigatória por usinas termelétricas inflexíveis, mesmo que as condições climáticas sejam mais favoráveis à geração hídrica. Esse cenário gerou uma previsão de uma expansão de 8.000 MW de termelétricas a gás, que devem quadruplicar a participação desse tipo de energia na matriz elétrica em apenas dez anos.
Embora os leilões para a construção dessas termelétricas ainda não tenham ocorrido devido à falta de interesse da iniciativa privada — em parte devido a uma limitação de preço imposta pela lei —, a EPE traçou um cenário alternativo que sugere a possibilidade de investir em usinas renováveis e termelétricas flexíveis que operariam apenas em momentos de maior demanda, como em períodos de estiagem. Nesse contexto, as emissões poderiam ser reduzidas para 14,5 milhões de toneladas de CO2, uma diferença acentuada em relação ao cenário pessimista.
A crítica a essa expansão de termelétricas inflexíveis é forte, especialmente por especialistas e representantes de associações de consumidores, que argumentam que essas usinas não só encarecem a energia, mas também comprometem a competitividade do setor elétrico e os esforços de descarbonização do país.
Além disso, o Ministério do Meio Ambiente expressou oposição a essa prática, alertando que essa estratégia representa um retrocesso nas metas climáticas do Brasil e contraria os acordos internacionais. A possibilidade de sanção do projeto ainda está nas mãos do governo, mas se a decisão legislativa prevalecer, o futuro da matriz elétrica será menos promissor.
Analistas apontam que o país precisará de 40% a mais de eletricidade nos próximos dez anos, e enquanto algumas vozes defendem o uso do gás natural como uma alternativa menos poluente em comparação com carvão ou diesel, críticos apontam a falta de uma infraestrutura robusta para suportar essa ampliação.
A discussão em torno da energia no Brasil não se resume apenas às fontes de geração, mas também envolve uma avaliação cuidadosa da viabilidade econômica e das consequências ambientais das escolhas feitas hoje. O que está em jogo é mais do que apenas a energia do futuro — é uma questão de compromisso com o desenvolvimento sustentável e responsabilidade ambiental.