Tecnologia

Baterias: Brasil avança para "estocar vento" e luz solar

2024-11-16

Autor: Pedro

Introdução

Lá se vão quase dez anos desde que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) comentou, em um discurso na ONU, a falta de tecnologia para "estocar vento", uma frase que se tornou um meme. Hoje, o armazenamento de energia – especificamente a energia gerada por ventos e luz solar – começa a ganhar força no Brasil como uma solução viável para garantir o fornecimento energético do país e amenizar o impacto nas contas de luz.

Leilão de Concessões em 2025

O governo federal está preparando para junho de 2025 o seu primeiro leilão de concessões que incluirá a venda de baterias para armazenar não apenas a energia eólica, mas também a solar. Essa iniciativa marca um passo significativo rumo à modernização das redes energéticas do país.

Sistemas de Armazenamento Atuais

Atualmente, já existem sistemas de armazenamento por baterias em operação, especialmente na indústria e no comércio, onde são utilizados para garantir o fornecimento durante os horários de pico, permitindo uma economia nas tarifas de energia. Projetos em larga escala, no entanto, estão começando a ser implementados, destacando um grande investimento no setor.

Instalações em Registro e Fernando de Noronha

Um exemplo notável foi a instalação de um sistema de baterias com capacidade de 30 MW na subestação de Registro, SP, que foi colocada em funcionamento em novembro de 2022. Este sistema é projetado para fornecer energia por duas horas durante os horários de maior demanda na região.

Outro projeto relevante está ocorrendo em Fernando de Noronha, onde parte da energia gerada por usinas a diesel será substituída por painéis solares e sistemas de armazenamento com baterias. A implementação, que ficará a cargo da Neoenergia Pernambuco, está prevista para 2027 e representa um investimento de aproximadamente R$ 300 milhões.

Queda nos Preços das Baterias

Um dos fatores que favorecem essa transição é a queda acentuada nos preços das baterias de íon de lítio, que, segundo a Bloomberg New Energy Finance, diminuíram cerca de 82% nos últimos dez anos. Essa redução de custos pode impulsionar ainda mais a adoção de tecnologias de armazenamento energético no Brasil.

Expectativas para o Leilão de 2025

O primeiro leilão voltado para baterias está previsto para junho de 2025 e deverá incentivar a expansão do armazenamento de energia eólica e solar em leilões de energia, que atualmente são predominantemente focados em termelétricas e hidrelétricas. A consulta pública para este leilão foi aberta em setembro, sinalizando um compromisso do Ministério de Minas e Energia (MME) em estruturar esse novo mercado. As contratações seguirão o modelo de Leilão de Reserva de Capacidade, prolongando os contratos por até dez anos, com início do fornecimento em julho de 2029.

Compromisso de Entrega e Capacidade de Geração

Enquanto em outros países se discute tecnologias que podem armazenar energia por 24 horas ou mais, no Brasil está sendo discutido um modelo onde o compromisso é de entrega de quatro horas de potência máxima. Além disso, o governo também realizará leilões para a contratação de capacidade de geração já existente, permitindo que as usinas se preparem para aumentar sua produção conforme necessário, evitando a dependência de contratos emergenciais, que são mais onerosos.

Desafios Tecnológicos e Resistência do Setor Tradicional

Camila Ramos, CEO da Clean Energy Latin America, explica que as normas técnicas para o leilão de baterias ainda estão sendo desenvolvidas, mas a expectativa é de que os vencedores sejam escolhidos com base na combinação entre o menor preço fixo e a capacidade de escoamento da geração. Enquanto isso, setores estão levantando preocupações sobre a introdução de novas tecnologias de armazenamento.

Carlos Augusto Leite Brandão, presidente da Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade de Energia (Abaque), menciona que, apesar da evolução tecnológica, a resistência de setores tradicionais é um desafio a ser superado, uma vez que as empresas podem hesitar em investir em inovações que possam impactar seus modelos de negócios atuais.

Regulamentação e Expansão do Mercado

A estruturação da regulamentação para o uso de baterias é fundamental para o sucesso dessa iniciativa, segundo Samir Moura, da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Ele comenta que a discussão ainda enfrenta entraves burocráticos, mas há sinais de que a movimentação já começou com a realização de leilões e projetos específicos em andamento no país.

Crescimento do Mercado de Armazenamento Energético

Especialistas preveem que o mercado de sistemas de armazenamento energético no Brasil crescerá em média 12,8% ao ano até 2040, adicionando uma capacidade instalada de até 7,2 GW no período. Essa expansão é vista como vital para preparar o Brasil para os desafios futuros no abastecimento de energia.

Armazenamento de Energia e Sustentabilidade

A energia gerada nos parques eólicos e por painéis solares geralmente é enviada para a rede elétrica na mesma hora em que é gerada, o que pode criar um descompasso entre a produção e a demanda. Por exemplo, a energia eólica tende a ser mais abundante durante a madrugada, enquanto a solar tende a acabar antes do horário de pico entre 18h e 21h. Portanto, as baterias aparecem como uma solução eficaz para armazenar essa energia e usá-la quando a demanda é maior, minimizando a dependência de usinas termelétricas, que são mais caras e consomem combustíveis fósseis.

Nos últimos meses, o Brasil tem enfrentado desafios significativos devido às baixas reservas hídricas e à estiagem, o que levanta preocupações sobre uma possível crise no abastecimento de energia no futuro, caso a chuva não seja suficiente. Portanto, investir em tecnologias de armazenamento de energia é mais crucial do que nunca para garantir um futuro energético sustentável.