As Sombras da Violência em Tremembé: Como o Discurso Antimovimento alavanca a Tragédia
2025-01-11
Autor: Julia
Em uma recente entrevista, João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), revelou que houve tentativas de ocupação irregular de um lote vago em Tremembé. Os assentados, no entanto, impediram essa ação, o que provocou uma reação violenta de um grupo armado que prometeu vingança.
Rodrigues enfatiza que essa situação não é um caso isolado: "Nós temos essa realidade em todo o Brasil. É urgente que o Incra e a Polícia Federal tomem medidas efetivas para regularizar lotes vagos, seja por abandono ou venda irregular". A urgência do problema é evidenciada pela falta de segurança e a propagação da violência no campo, que tem suas raízes em um discurso que classifica o MST como alvo legítimo para ataques.
O Ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que o governo está comprometido em resolver a questão das terras vagas após um mutirão realizado para analisar os casos. "O presidente Lula já se comprometeu a investigar esses ataques à assentamentos", destacou Teixeira, enquanto o Ministério da Justiça solicitou à Polícia Federal a abertura de uma investigação. O envolvimento de agentes federais é visto como um possível fator de dissuasão.
Entretanto, como Rodrigues e outros líderes sociais apontam, existe um ambiente tóxico cultivado ao longo dos anos que fomenta a violência contra movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. Grupos como madeireiros e grileiros não são os únicos responsáveis por essa escalada de violência; os casos de assassinatos e de disputas de terra envolvem uma teia complexa que frequentemente ignora os direitos dos mais vulneráveis, como indígenas e trabalhadores rurais.
O Brasil vive um histórico de violências no campo, com massacres como os de Eldorado dos Carajás (1996) e Pau D'Arco (2017). A impunidade e a falta de ações efetivas para proteger as comunidades afetadas perpetuam um ciclo de dor e destruição. Entre 2003 e 2021, por exemplo, 50 indígenas Guajajara foram mortos no Maranhão na luta para proteger suas terras de madeireiros. De acordo com dados do portal Sumaúma, 570 crianças Yanomami morreram dos efeitos da invasão de garimpeiros em seus territórios.
O modelo econômico que prioriza a exploração da mão de obra e a especulação fundiária é uma das raízes dessas tragédias. Como resultado, muitos trabalhadores rurais se veem em situações de quase escravidão, enquanto uma elite ligada ao agronegócio reina sobre as terras brasileiras. Os políticos do agronegócio no Congresso têm defendido normas que facilitam a exploração dos territórios indígenas e a fragilização da proteção ambiental, perpetuando um histórico de injustiças sociais.
A narrativa que alega que a “limpeza” das terras é necessária para o “progresso” revela uma mentalidade que continua a desvalorizar a vida de centenas de famílias camponesas e indígenas. Frente a isso, entre 2019 e 2022, o governo federal que assumiu uma postura de retórica beligerante contra os movimentos sociais, criando um ambiente propício à violência.
Neste cenário, o que se espera para o futuro? É imperativo que a sociedade comece a dar voz a essas injustiças, desenvolvendo uma consciência crítica e solidária. A mudança começa com a empatia e a luta por direitos iguais para todos os brasileiros, não importa seu status social ou origem. Se não buscarmos formas de reverter essa narrativa, continuaremos colhendo os amargos frutos da violência e da indiferença.