As 'Alucinações' da Inteligência Artificial: O segredo para grandes descobertas científicas?
2024-12-29
Autor: Mariana
A inteligência artificial (IA) é frequentemente alvo de críticas por gerar informações que, embora pareçam verdadeiras, podem ser completamente falsas, fenômeno conhecido como "alucinações". Essas falhas têm causado confusão em diversos contextos, desde chatbots até registros médicos, mas agora cientistas começaram a perceber que essas alucinações podem ser uma revolução para a pesquisa.
Uma evidência recente desse potencial ocorreu no ano passado, quando uma afirmação incorreta de um chatbot do Google levou a uma queda de US$ 100 bilhões no valor de mercado da empresa. Contudo, na ciência, as "alucinações" da IA estão abrindo portas para inovações que antes pareciam impossíveis. Pesquisadores estão utilizando essas falhas criativas para acelerar descobertas em áreas como câncer, desenvolvimento de medicamentos e novas tecnologias médicas.
"A percepção pública é geralmente negativa," diz Amy McGovern, cientista da computação de um instituto federal de IA. "Mas isso está realmente inspirando novos caminhos de exploração para os cientistas. As máquinas estão sugerindo possibilidades que nunca foram pensadas antes."
A ciência é muitas vezes vista como uma prática fria e lógica, mas as primeiras etapas de descobertas científicas muitas vezes se baseiam em intuições e especulações. Paul Feyerabend, filósofo da ciência, descreveu essa etapa como um momento de liberdade criativa onde "tudo vale". E agora, as alucinações da IA estão revitalizando essa criatividade, acelerando o desenvolvimento de novas ideias.
James J. Collins, professor do MIT, elogiou as alucinações da IA ao afirmar que elas têm acelerado sua pesquisa sobre novos antibióticos, permitindo a criação rápida de moléculas que antes não existiam na natureza. "Estamos pedindo aos modelos que criem moléculas completamente novas," afirma Collins.
As alucinações acontecem quando cientistas alimentam modelos computacionais generativos com informações específicas, e deixam que as máquinas reorganizem esses dados. Embora os resultados possam variar entre erros sutis e ideias surpreendentes, algumas desses aparentes erros poderiam levar a descobertas que mudam os paradigmas científicos.
David Baker, da Universidade de Washington, recentemente conquistou o Prêmio Nobel de Química por sua pesquisa inovadora em proteínas, fundamentais para a vida. Durante sua aceitação, ele destacou que as inspirações da IA foram cruciais para "construir proteínas do zero", o que levou a cerca de cem patentes, incluindo novos tratamentos para câncer e infecções virais.
"Estamos avançando rapidamente," diz Baker. "Nem mesmo os cientistas que trabalham com proteínas estão cientes do quanto progredimos. Já projetamos milhões de proteínas que não existem na natureza!".
Apesar dos beneficios que essas alucinações podem ter, um grupo de cientistas discorda do uso do termo 'alucinações', argumentando que a expressão gera confusão, já que as inovações provenientes da IA não são ilusórias, mas sim prospects para futuras realidades. Eles sugerem utilizar termos como "hipóteses" ou "sugestões".
Anima Anandkumar, do Caltech, é uma das especialistas que defende que a IA pode gerar resultados significativos com base em dados robustos. Recentemente, sua equipe projetou um cateter inovador que reduz a contaminação bacteriana, principal causa de infecções urinárias em milhares de pacientes globalmente. "É necessário validar essas criações," enfatiza Anandkumar, mostrando que a integração da IA na ciência pode realmente salvar vidas.
Além disso, um artigo recente destacou como cientistas do Memorial Sloan Kettering Cancer Center utilizam IAs para melhorar diagnósticos por imagem. Pesquisadores da Universidade do Texas em Austin também exploram essas "alucinações" em contextos de robótica.
Pushmeet Kohli, da DeepMind, elogiou o potencial criativo das alucinações, citando o caso de um computador que venceu o campeão mundial de Go, onde um movimento inicialmente visto como um erro se revelou uma jogada de gênio. Essa capacidade da IA de produzir ideias inovadoras pode, sem dúvida, levar a novas descobertas em várias áreas.
Por fim, McGovern sugere que as chamadas alucinações poderiam ser mais tecnicamente descritas como "distribuições de probabilidade", um conceito amplamente usado na meteorologia. Ela também menciona que meteorologistas utilizam a IA para explorar uma variedade de cenários de previsão do tempo, permitindo identificar eventos extremos como ondas de calor. "Essas ferramentas são valiosas para o futuro da ciência e da saúde pública," conclui McGovern, deixando a pergunta no ar: Poderiam as alucinações da IA ser a chave para a próxima grande descoberta científica?