Nação

Anistia e Turbulência: O Impacto da Possível Volta de Trump no Brasil

2024-11-02

Autor: Julia

Os assessores do presidente Lula estão cada vez mais preocupados com a possibilidade de uma transformação da Casa Branca em um foco de turbulência na América Latina, especialmente com o fortalecimento de grupos de extrema direita na região. Essa preocupação é intensificada pelas movimentações no Congresso Americano entre aliados de Donald Trump, que já indicam uma possível pressão sobre o Brasil em questões como liberdade de expressão e a investigação de brasileiros relacionados aos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Em março, por exemplo, o deputado republicano Chris Smith, em parceria com deputados bolsonaristas, denunciou "violências de direitos humanos’’ enfrentadas pelos brasileiros. Enquanto isso, o senador Mike Lee, de Utah, pediu que os EUA pressionassem o Brasil após a suspensão do Twitter no país, mostrando como os laços entre os políticos americanos e brasileiros podem se intensificar.

Analistas brasileiros consideram que as ações atuais dos deputados são uma espécie de “ensaio geral” para uma intervenção mais direta em 2025, caso Trump retorne ao poder. Com a força da mídia social, impulsionada por Elon Musk, Trump pode aumentar essa pressão. Uma delegação de deputados bolsonaristas tem uma viagem agendada para Washington em novembro, em um esforço para intensificar as discussões.

Em uma declaração polêmica, o senador Randolfe Rodrigues (Amapá-PT) afirmou que "não houve golpe no Brasil em 2023 devido à falta de apoio estadunidense’’. Ele acredita que a eleição americana pode impactar o Brasil mais do que as eleições municipais locais. "Se Trump vencer, enfrentaremos a maior pressão sobre a democracia brasileira desde 1985'', disse. Essa situação pode reverberar em todo o continente.

A suposta volta de Bolsonaro ao cenário político em 2026 também é mencionada. A vitória de Trump poderia reforçar a narrativa entre bolsonaristas de que eles foram injustamente afastados do poder, algo que preocupa muitos analistas, pois isso poderia legitimar atitudes extremistas e reforçar comparações entre os ataques de 8 de janeiro no Brasil e nos EUA.

Trump já insinuou que, se for eleito, poderá conceder um "perdão'' a participantes da invasão ao Capitólio, chamando-os de "patriotas". Essa postura pode gerar um ambiente de incentivo à radicalização de grupos de direita no Brasil, colocando a democracia em um risco ainda maior.

"A política externa do governo Lula terá que se adaptar ao comportamento de Trump em relação ao Brasil”, afirma Guilherme Casarões, professor da FGV. Durante seu governo anterior, Trump demonstrou pouco interesse na América do Sul, exceto em casos relacionados à Venezuela. Contudo, sua possível reeleição pode trazer novos desafios, como a pressão para revisar a anistia a Bolsonaro e defender direitos civis.

Além disso, a relação comercial entre os dois países também entra em jogo. Donald Trump prometeu, durante sua campanha, enfrentar países que considere "trapaceiros’’ e priorizar empresas americanas em detrimento das estrangeiras. O aumento de tarifas sobre produtos estrangeiros pode prejudicar as exportações brasileiras, o que preocupa o setor privado.

Em 2023, as exportações brasileiras para os EUA atingiram a marca recorde de US$ 29,9 bilhões, mas as vendas americanas para o Brasil caíram 26% em comparação ao ano anterior. Jorge Viana, presidente da Apex, destacou a importância do mercado americano e a necessidade de uma abordagem pragmática que não se prenda a ideologias. Viana afirmou que o Brasil, com um fluxo comercial de cerca de US$ 50 bilhões com os EUA, deve se posicionar estrategicamente em um possível novo cenário de guerra comercial entre os EUA e a China.

O governo brasileiro pode precisar tomar decisões difíceis se Trump cumprir suas promessas protecionistas e iniciar uma nova guerra comercial, possivelmente envolvendo o setor do etanol, uma prioridade da administração Lula. O temor é de que impostos adicionais possam ser impostos, prejudicando ainda mais a economia brasileira.

Assim, os especialistas alertam que, além dos riscos à democracia, o Brasil poderá enfrentar um cenário econômico desafiador, exigindo uma estratégia cautelosa para navegar nas complexidades das relações com os EUA e suas implicações para o futuro do país.