Anistia e Turbulência: O Impacto da Possível Volta de Trump no Brasil
2024-11-02
Autor: Mariana
Assessores próximos ao presidente Lula demonstram crescente preocupação com a possibilidade de que a Casa Branca se torne um centro de agitação política na América Latina, especialmente com o fortalecimento de grupos de extrema direita na região. A analogia é clara: muitos temem que a vitória de Donald Trump em uma futura eleição possa desencadear uma onda de retrocessos democráticos no Brasil.
O Congresso Americano já revela sinais iniciais desse cenário, nos quais aliados de Trump começam a articular pressões sobre o Brasil relacionadas à liberdade de expressão e à investigação de brasileiros envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023. Esse cenário de hostilidade inclui vozes de deputados bolsonaristas, como Chris Smith, que denunciou em março de 2023 que "desde o final de 2022, os brasileiros têm sido vítimas de amplas violações de direitos humanos".
A insatisfação com políticas brasileiras é evidenciada também pelo senador Mike Lee, que pediu que os EUA adotassem medidas para pressionar o país, aproveitando a controvérsia sobre a suspensão do X (antigo Twitter) no Brasil. Para muitos diplomatas brasileiros, as movimentações de certos deputados parecem ser um ensaio para uma ação mais contundente em 2025. Com Elon Musk apoiando Trump, essa pressão internacional poderia se intensificar.
O senador Randolfe Rodrigues (Amapá-PT) afirmou que se não houve um golpe no Brasil em 2023, foi porque os EUA não apoiaram esse movimento. Ele acredita que a eleição nos EUA terá um impacto mais profundo que as eleições municipais no Brasil, prevendo que uma possível vitória de Trump resultará na maior pressão sobre a democracia brasileira desde o fim da ditadura militar em 1985.
A expectativa é que Bolsonaro, que já manifestou sua intenção de retornar ao poder em 2026, possa ver suas chances aumentadas com o retorno de Trump. Rogério Sottili, do Instituto Vladimir Herzog, sugere que, se Trump vencer, isso dará ânimo e legitimidade ao movimento bolsonarista, criando uma narrativa em que os ataques de janeiro seriam uma forma de "defender a democracia".
Trump já indicou que, se reeleito, pode conceder indultos aos envolvidos na invasão do Capitólio, classificando esse episódio como um “dia de amor”, no qual os participantes seriam descritos como "patriotas". Para Guilherme Casarões, cientista político, qualquer mudança na política externa do governo Lula dependerá da atitude de Trump em relação ao Brasil.
Um dos possíveis desafios para o governo Lula será lidar com demandas por anistia a Bolsonaro e a pressão para a defesa de valores como a liberdade de expressão, com a ameaça de sanções em um clima de pressão política crescente. Além disso, uma potencial aliança entre os EUA e a Argentina, sob Javier Milei, poderia prejudicar o Mercosul, cenário que preocupa ainda mais os diplomatas brasileiros.
No campo comercial, as promessas de Trump incluem um enfrentamento direto a países que ele considera "trapaceiros" e um foco em ressuscitar o setor produtivo americano. A promessa de elevar tarifas sobre produtos importados pode ter efeitos severos nas relações comerciais entre Brasil e EUA, o que é particularmente preocupante dado o aumento das exportações brasileiras para o mercado americano que atingiram US$ 29,9 bilhões em 2023. No entanto, também é notável que houve uma queda de 26% nas vendas americanas para o Brasil, sugerindo um cenário comercial complicado.
Exatamente neste contexto, Jorge Viana, presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil), alerta sobre a importância pragmática de manter boas relações comerciais com os EUA, que representam a maior economia mundial. Ele sublinha que o Brasil precisa se preparar para um possível impacto negativo, principalmente no setor de etanol, que é um carro-chefe do governo atual.
A pressão para que Lula se afaste da China e escolha seu lado no crescente conflito tecnológico e comercial entre as duas potências se intensificará. O futuro comercial do Brasil pode depender muito das movimentações que Trump e sua equipe venham a fazer ao longo de seu possível novo mandato, e a comunidade internacional observará atentamente esses desenvolvimentos na relação entre os dois países.