Nação

Amorim: Brasil não romperá com Venezuela, mas Lula deve se afastar da posse de Maduro

2024-09-20

Celso Amorim, assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, revelou suas opiniões sobre a relação do Brasil com a Venezuela em um contexto tenso após as recentes eleições no país vizinho. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Amorim minimizou a possibilidade de Lula comparecer à posse de Nicolás Maduro, destacado como um ditador por muitos países ocidentais.

Segundo ele, não há chance de rompimento diplomático entre Brasil e Venezuela, apesar das crescentes críticas ao regime de Maduro e de falhas nas tentativas do Brasil de garantir transparência nas eleições venezuelanas. Em julho, Maduro foi declarado vencedor de um pleito amplamente contestado, onde o principal candidato da oposição, Edmundo Gonzáles Urrutia, parecia ter a vantagem nas pesquisas.

"Nunca é 'game over'. O Brasil não vai romper relações com a Venezuela. Nossa relação é com o Estado, independentemente de quem esteja no poder", afirmou Amorim. Ele destacou que o Brasil continuará a buscar soluções democráticas e cooperativas, enfatizando a importância do diálogo com o governo e com a oposição.

Sobre as alegações de fraude nas eleições, Amorim lamentou que nem o governo nem a oposição tenham aceitado sugestões para novas eleições, indicando que o cenário é complexo. "Isso demonstra que talvez nossas sugestões fossem equilibradas", disse.

Durante a mesma entrevista, ele comentou sobre a recente ligação entre Lula e o presidente russo, Vladimir Putin, em que foram discutidos temas relevantes, incluindo os incêndios florestais no Brasil e a cúpula do Brics, marcada para o próximo mês em Kazan. Amorim garantiu que a busca pela paz no conflito entre Rússia e Ucrânia é uma prioridade para o Brasil, embora tenha negado que Lula tenha a intenção de atuar como mediador.

"Nós temos interesse na paz, mas ser mediador é uma responsabilidade que precisa de muito mais preparação e diálogo", declarou Amorim, ressaltando que o Brasil, junto com a China, apresentará uma proposta para cessar-fogo durante a Assembleia-Geral das Nações Unidas.

A aproximação do governo Lula com Putin tem gerado críticas, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Recentemente, a Rússia intensificou suas atividades militarísticas, e a comunidade internacional observa com atenção as ações do Brasil, que busca manter uma posição neutra diante do conflito.

Lula fará sua primeira visita oficial à Rússia em seu terceiro mandato durante a cúpula dos Brics, que reúne líderes de países como China, Índia e África do Sul, além da Rússia e do Brasil, ampliando ainda mais a importância geopolítica desse bloco, que agora conta com novos membros como Egito e Arábia Saudita. O futuro da relação entre Brasil e Venezuela permanecerá instável, mas o governo alegou que o diálogo será sempre uma prioridade.