Nos últimos séculos, o sono era visto como um mistério distante e inacessível. O conhecimento a respeito deste estado se limitava a observações e relatos pessoais, até que, no século 19, o médico alemão Ernst Kohlschütter começou a investigar de forma sistemática os limiares do despertar a partir de estímulos acústicos. Essa mudança de paradigma foi só o início de uma revolução que culminou com o desenvolvimento do eletroencefalograma, uma ferramenta criada pelo neurologista Hans Berger nos anos 1920, que possibilitou interpretar a atividade elétrica do cérebro durante o sono.

Essas descobertas revelaram a complexidade do sono humano, suas fases e os distúrbios que afetam milhares de pessoas. Com o correr do tempo, a medicina do sono tomou forma, e estudos sobre insônia e apneia tornaram-se ações prioritárias, principalmente a partir das transformações sociais das décadas de 1960 e 1970.

Atualmente, estima-se que cerca de 72% da população brasileira tenha problemas relacionados ao sono, de acordo com uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Esse dado alarmante tem impulsionado o desenvolvimento de uma gama de dispositivos e aplicativos que prometem melhorar a qualidade do sono. São muitas as opções no mercado, desde relógios inteligentes até sprays para nariz, prometendo acabar com o vai-e-vem nas longas horas da noite.

Entre os aplicativos, destaca-se o Vigilantes do Sono, que utiliza recursos da terapia cognitivo-comportamental focados em hábitos saudáveis, e o SleepUp, que oferece programas personalizados com base em dados do usuário.

No entanto, não podemos esquecer que os problemas relacionados ao sono não são restritos apenas à insônia. A apneia do sono, que afeta cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, é outro vilão que causa grande impacto na qualidade de vida. Essa condição interrompe a respiração diversas vezes durante a noite, levando a uma falta de oxigenação e repouso.

Casos como o do músico paulista Felipe Bernardo, que enfrenta dificuldades para dormir devido à apneia, são comuns. A sensação de acordar cansado e a depender de acessórios para respirar melhor durante a noite é uma realidade vivida por muitos. O músico, que já tentou chás, remédios e até dilatadores nasais, ainda tem um longo caminho pela frente em busca do tratamento ideal.

Em um mundo onde as solicitações do dia a dia aumentam, muitos optam por soluções caseiras ou automedicação. Contudo, essa pode não ser a melhor escolha considerando que problemas como a insônia podem se tornar crônicos e instaurar um ciclo vicioso.

Por outro lado, a tecnologia vem se mostrando uma aliada no entendimento e aprimoramento do sono. Dispositivos como pulseiras, relógios e anéis inteligentes estão se tornando populares para monitorar a qualidade do sono, embora se deva ter atenção, pois apenas monitorar não é sinônimo de tratamento.

O sono é essencial para a saúde mental e física, e conhece-se cada vez mais sobre a importância de manter uma boa higiene do sono. Práticas como evitar o uso de eletrônicos antes de dormir, manter um ambiente tranquilo e confortável, e ter uma rotina regular de sono são fundamentais para melhorar a qualidade do descanso. Além disso, é importante buscar ajuda médica ao notar que os problemas de sono não se resolvem por conta própria.