
A Revolução Psicodélica Ignorada: A Invisibilidade das Mulheres na Pesquisa
2025-09-04
Autor: Lucas
Psicodélicos: Um Campo em Debate
Os estudos clínicos sobre substâncias psicodélicas, que têm o potencial de transformar a pesquisa biomédica, revelam uma negligência alarmante em relação às diferenças de gênero — e não apenas entre homens e mulheres, mas também em relação a gêneros não binários. Uma nova pesquisa destaca a falta de atenção às necessidades femininas na avaliação dos benefícios terapêuticos dessas substâncias.
Um Estudo Revelador
Alexandra Wojdyslawski Nigri, psicóloga brasileira formada pela Universidade de Tel Aviv, revisou 75 artigos científicos que tratam do impacto de substâncias como ayahuasca, MDMA e psilocibina no tratamento de dependências químicas, como álcool e cocaína. O que ela encontrou foi decepcionante: nenhum dos estudos focava especificamente em questões de sexo ou gênero.
Uma Questão Ignorada
"Essa omissão não é exclusiva da pesquisa psicodélica, mas parte de um problema estrutural muito maior", alerta Nigri. Durante sua pesquisa, que contou com a colaboração de outros especialistas da USP e Unicamp, foi possível perceber que apenas 18 dos 75 estudos incluíram um equilíbrio entre os gêneros, com no mínimo 45% de participação feminina. Curiosamente, nove dos estudos não tinham mulheres entre os participantes.
O Impacto das Diferenças Biológicas
As diferenças entre gêneros podem ser significativas. A Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE de 2019 indicou que 9,2% das mulheres relataram consumo abusivo de álcool, comparado a 26% dos homens. Esse número pode ser ainda menor, uma vez que o estigma associado ao alcoolismo feminino leva muitas mulheres a ocultarem sua condição.
Desafios e Barreiras no Tratamento
Além do estigma, as barreiras de busca por tratamento são ampliadas pelo medo de perder a guarda dos filhos ou de admitir violência sexual. As diferenças biológicas entre homens e mulheres, como a porcentagem maior de gordura corporal nas mulheres, também influenciam como elas metabolizam drogas e suas predisposições ao abuso de substâncias.
Um Olhar Atraente Sobre a Jorge do MDMA
Pesquisas sobre diferenças de gênero na resposta a drogas são escassas, mas já se sabe que mulheres podem sentir experiências distintas em relação ao MDMA. Embora essa substância estivesse prestes a obter aprovação para tratar o TEPT, a licença foi recusada pela FDA americana. Alexandra reconhece que essa decisão atrasou muitos avanços.
Uma Voz que Clama por Atenção
A motivação de Nigri para se aprofundar nesse campo surgiu de experiências pessoais com familiares que sofrem de condições graves como o TEPT. Ela encontrou no protocolo da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (Maps) uma abordagem que valoriza a individualidade no tratamento. "Devemos respeitar cada ser humano, seu gênero é uma parte importante disso", enfatiza.
Um Chamado para Mudança
Durante seu mestrado em Israel, ela trabalhou como coordenadora de pesquisa em um teste clínico do Maps, onde suas conclusões revelam a urgência de incluir mais diversidade nas pesquisas sobre o uso de psicodélicos. Para o futuro da pesquisa biomédica, é crucial que o gênero e o sexo sejam levados em conta, afinal, mudando a forma como tratamos e estudamos, podemos avançar muito mais.