Ciência

A Revolução de Hubble: Como Descobrimos que Vivemos em um Universo repleto de Galáxias

2024-12-31

Autor: Matheus

Há exatamente 100 anos, em 23 de novembro de 1924, uma manchete do The New York Times mudou para sempre a maneira como vemos o cosmos. A notícia dizia: "Nebulosas em espiral encontradas são sistemas estelares: Dr. Hubble confirma que são 'universos-isolados', semelhantes ao nosso".

Edwin Hubble (1889-1953), o astrônomo que fez essa revelação, ficou surpreso não apenas com a confusão em seu sobrenome, mas também com a magnitude de sua descoberta. Até aquele momento, acreditava-se que todas as nebulosas, como as encontradas em Andrômeda e Messier 33, estavam contidas em nossa própria Via Láctea. No entanto, Hubble provou que essas nebulosas eram, na verdade, galáxias separadas, estabelecendo que o universo é vasto e repleto de outras galáxias.

Antes dessa descoberta, a comunidade astronômica passou por um debate acalorado conhecido como "O Grande Debate", onde Harlow Shapley e Heber Curtis discutiram sobre a natureza das nebulosas. Shapley defendia que a Via Láctea era a única galáxia relevante, enquanto Curtis argumentava a favor de outras galáxias além da nossa. A vitória de Curtis no debate foi confirmada com a pesquisa de Hubble.

O trabalho pioneiro de Henrietta Swan Leavitt, que identificou a relação entre o brilho das estrelas variáveis conhecidas como cefeidas e seus períodos de pulsação, foi crucial para a medição das distâncias nas galáxias. Leavitt descobriu que, quanto mais lentas eram as pulsações, maior era a luminosidade das cefeidas. Este insight permitiu que Hubble medisse a distância até as galáxias de Andrômeda e Messier 33, transformando nossa compreensão da estrutura do universo.

No fascinante mundo da astronomia, o telescópio foi um grande aliado. O telescópio Hooker, localizado no Observatório Monte Wilson, era então o maior do mundo, com um espelho de 2,5 metros de diâmetro. Através desse equipamento, Hubble revelou detalhes impressionantes sobre galáxias distantes que, até então, só eram mera especulação.

A descoberta de que essas nebulosas em espiral eram, na verdade, galáxias levou Hubble a, mais tarde, formular a Lei de Hubble, que estabelece que as galáxias se afastam umas das outras a velocidades proporcionais às suas distâncias, um conceito fundamental em cosmologia que sugere que o universo está em expansão.

Essa conclusão foi substanciada pelo trabalho de astrônomos como Vesto Slipher, que, em 1904, utilizou o efeito Doppler para medir a velocidade de galáxias e nebulosas, descobrindo que algumas delas se afastavam a até 1.000 km/s. A partir dessas medições, Hubble fez a correlação entre distância e velocidade, revelando um universo em movimento contínuo.

Em apenas cinco anos, o entendimento do universo passou por uma revolução, saindo de uma visão restrita para uma perspectiva de imensidão cósmica. Hoje, estimamos que existem trilhões de galáxias em um universo em constante expansão. Este legado de Hubble e de outros astrônomos não só transformou a astronomia, mas também nossos próprios lugares no cosmos. Quem diria que, ao olhar para o céu, não estaríamos apenas contemplando nossa galáxia, mas apenas uma entre bilhões?