Nação

A Revolta Contra o Artigo de Bolsonaro: O Que Está Realmente Em Jogo?

2024-11-12

Autor: Julia

O psicólogo Jonathan Haidt, famoso por sua liderança em um movimento que busca proteger crianças e adolescentes dos perigos das redes sociais, defende uma análise da ideologia que a decompõe em seis dimensões fundamentais: proteção, justiça, liberdade, lealdade, autoridade e pureza.

Esse modelo poderia ser visto como uma 'tabela periódica' das emoções morais que nos guiam. Cada indivíduo teria um perfil ético-ideológico, moldado por diferentes proporções desses sentimentos.

Os progressistas costumam enfatizar proteção e justiça, enquanto os conservadores tendem a ter uma fórmula mais variada. O que chama a atenção neste debate atual, no entanto, é o conceito de pureza, que parece estar no cerne da indignação de muitos leitores da Folha em relação à publicação de um artigo de Jair Bolsonaro. Para essa audiência, a divulgação das ideias de um ex-presidente associado a um golpe ameaça a integridade da democracia.

A noção de degradação ou contaminação, que contrasta diretamente com a pureza, acirrou os ânimos. Vale destacar que reações semelhantes também foram observadas quando a Folha publicou uma entrevista com Lula enquanto ele ainda estava preso. Naquele momento, a crítica girou em torno da legitimidade de dar voz a um condenado.

Essas reações suscitam questionamentos sobre os valores do jornalismo. O ideal de que cada texto publicado serve para alimentar o pensamento crítico dos leitores, que são considerados agentes autônomos, é muito debatido. Ao ler o artigo de Bolsonaro, por exemplo, saí convencido de que ele é um oportunista com uma obsessão doentia pelo poder. É provável que muitos leitores cheguem a conclusões semelhantes, e não vejo como isso poderia enfraquecer a democracia.

Na verdade, em meio ao crescimento da extrema direita, tanto nas eleições quanto na proteção das instituições, é crucial entender suas propostas e estratégias. A ideia de silenciar discursos em nome de uma 'pureza democrática' pode ser perigosa. Enfrentaremos novos desafios sem realmente conhecer o que está sendo engendrado no discurso político atual. "O que deve ser feito para que a democracia prevaleça neste cenário volátil?" Essa é a pergunta que devemos nos fazer.