Após a posse, Donald Trump fez declarações bombásticas sobre a relação dos Estados Unidos com o Brasil, afirmando que o país sul-americano precisaria mais dos EUA do que o contrário. Essa frase não apenas incomodou autoridades brasileiras, mas também acendeu um alerta sobre o equilíbrio de poder no continente latino-americano, onde outros blocos, como o Brics, vêm ganhando destaque global.

Embora a influência histórica dos Estados Unidos sobre o Brasil seja reconhecida, dados recentes revelam que essa assimetria tem diminuído. Em 2024, as exportações do Brasil para os EUA alcançaram impressionantes 40,3 bilhões de dólares. Em contrapartida, as importações dos americanos no Brasil registraram um valor similar, 40,5 bilhões de dólares – evidenciando um saldo comercial que, apesar de levemente positivo para os EUA, se aproxima de um equilíbrio.

A professora Carolina Pedroso, da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), destaca que a balança comercial está muito mais equilibrada atualmente. "Exportamos não apenas produtos primários, como café e petróleo, mas também itens como aço e aeronaves, com alto valor agregado. Isso transformou o Brasil em um parceiro comercial relevante", explica.

Os Estados Unidos, por sua vez, continuam a depender de produtos brasileiros, como o aço, o que pode trazer implicações no preço interno caso Trump siga suas promessas de taxação sobre importações. Essa precariedade no discurso pode resultar em um tiro no pé para o próprio presidente americano.

Enquanto Trump critica o Brics, que terá presidência brasileira em 2025, a verdade é que a união de países como China, Índia e Rússia representa um desafio à hegemonia americana. “O Brics está buscando alternativas ao dólar, e a afirmação de que isso não é possível complicará ainda mais a relação dos EUA não apenas com o Brasil, mas com todo o bloco”, diz Pedroso.

Para o professor Dawisson Belém Lopes, da Universidade Federal de Minas Gerais, as declarações de Trump indicam uma tentativa de reafirmar a liderança americana em um cenário desafiador. "Embora Trump fortaleça sua base interna ao adotar essa retórica, ele está também afastando parceiros importantes e criando pressões que podem resultar em um movimento anti-Trump global, principalmente entre os países que já tiveram suas relações afetadas pela política exterior agressiva dos EUA", alerta Lopes.

Em um cenário cada vez mais bipolarizado, a diplomacia se torna uma habilidade crucial para o Brasil. As relações atuais, se mal conduzidas, podem resultar em prejuízos não apenas econômicos, mas também políticos. A expectativa é que, em meio a esse tabuleiro geopolítico complexo, o Brasil mantenha sua postura equilibrada e não se deixe subordinar às ameaças e imposições de uma potência em declínio de influência.