A Onda de Frio Extremo nos EUA e os Efeitos do Aquecimento Global
2025-01-22
Autor: Maria
Uma intensa e incomum massa de ar polar proveniente do Ártico está assolando a América do Norte. Nos Estados Unidos continentais, onde 93% das áreas estavam com temperaturas abaixo de 0°C nesta manhã, cerca de 277 milhões de pessoas enfrentam condições climáticas severas.
Em Minnesota, a temperatura mínima atingiu impressionantes -41°C no dia 20 de janeiro. Já na província de Quebec, no Canadá, a cidade de Morandière registrou uma temperatura mínima de -44,4°C. Embora não tenham sido quebrados recordes de frio em várias partes do Meio-Oeste, Norte e Nordeste, os Estados do Sul e Sudeste passaram por um evento extraordinário de neve e temperaturas baixas, com mínimas sem precedentes desde o século XIX.
O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA emitiu seu primeiro alerta de nevasca para a costa do Golfo do México, abrangendo partes do Sudoeste da Louisiana e do Sudeste do Texas. Nova Orleans, em um evento inusitado, quebrou seu recorde de neve em um único dia com 20,3 cm. Para se ter uma ideia da magnitude da situação, este valor superou o anterior, que era de 6,9 cm, registrado em 1963.
Infelizmente, a tempestade resultou em 10 mortes em várias regiões do Sul e Sudeste dos EUA, com fatalidades associadas a hipotermia e acidentes em estradas congeladas. Em uma cena inusitada, muitos residentes de Nova Orleans até esquiaram pela icônica Bourbon Street. No mesmo evento, a quantidade de neve registrada na cidade superou o que foi observado em Nova York e Anchorage durante dezembro e janeiro inteiros.
Além disso, a cidade de Milton, na Flórida, registrou 22,4 cm de neve, mais do que o dobro do recorde anterior. Pensacola também marcadamente estabeleceu um novo recorde com 19,3 cm de neve, e Mobile, no Alabama, viu sua máxima de 19 cm, ambos superando os recordes históricos.
Esse fenômeno de frio extremo não contradiz o aquecimento global, segundo especialistas. O climatologista Zeke Hausfather destaca que, apesar de o território dos EUA estar excepcionalmente frio em um momento específico, o mundo, como um todo, está experimentando níveis recordes de aquecimento. De fato, os dados do modelo ERA-5 do Sistema Copernicus mostram que neste período de frio extremo, a temperatura média global estava mais alta do que em anos anteriores.
A invasão de ar frio em uma parte do planeta não anula o fato de que, em geral, a Terra está mais quente. A dinâmica atmosférica provoca redistribuição de ar quente, resultando em eventos climáticos extremos em diferentes regiões, como o frio nos EUA neste inverno que não se opõe à tendência de aumento das temperaturas globais.
Enquanto a parte norte do continente norte-americano enfrenta congelamento, a Sibéria está experimentando temperaturas recordes de calor. Em Yakutsk, na Rússia, a temperatura chegou a 9,9°C, superando em 24°C a média esperada. Por outro lado, em regiões do Hemisfério Sul, como a Argentina, o calor também é extremo, com recordes de até 44,5°C.
Ainda mais alarmante é que 2024 já está sendo considerado o ano mais quente da história dos Estados Unidos, com registros que revelam um aumento significativo nas temperaturas médias e desastres climáticos diversos, totalizando danos estimados em bilhões de dólares. O número de tornados e a atividade de furacões também superaram os índices normais, levando a um aumento considerável nos custos associados aos desastres naturais.
Os cientistas atribuem o aquecimento extremo ao fenômeno de amplificação do Ártico, onde as temperaturas aumentam a uma taxa muito mais rápida. Isso não só impacta o clima no Ártico, mas também desestabiliza as condições atmosféricas em latitudes mais baixas, contribuindo para eventos climáticos extremos, como ondas de frio e tempestades.
Os meteorologistas ressaltam que a umidade proveniente do Golfo do México, combinada com o ar frio, intensificou as nevascas no Sul. Também é visto que as temperaturas das águas do Golfo estão mais quentes do que a média, o que acompanha as tendências globais de aquecimento, favorecendo precipitações mais intensas. Portanto, mesmo diante de eventos climáticos extremos, a evidência sugere uma clara relação com as mudanças climáticas em curso.