A Explosão do Dark Romance: Por que o Interesse Cresce em Temas de Violência e Cura nas Relações Amorosas?
2024-10-27
Autor: Carolina
Nos últimos anos, o gênero de dark romance tem experimentado um crescimento impressionante entre os leitores brasileiros, com um aumento significativo nas pesquisas e interações nas redes sociais. O Google Trends revela que desde 2022, o interesse pelo gênero não parou de crescer, culminando em um pico de buscas em fevereiro de 2024. No TikTok, mais de 1,5 milhão de vídeos com a hashtag #darkromance acumulam mais de 8,4 bilhões de visualizações.
A Amazon também destacou um dado intrigante: das dez autoras mais lidas no Kindle Unlimited no Brasil na última década, nove se dedicam a obras de dark romance. Esses livros trazem à tona relações românticas complexas e carregadas de emoção, frequentemente entrelaçadas com temas obscuros como violência, traumas e, em alguns casos, questões tabus como estupro e pedofilia.
Exemplos notáveis incluem "Assombrando Adeline", de H. D. Carlton, onde a protagonista enfrenta situações extremas, e "Meu Romeu Sombrio", de L.J. Shen e Parker S. Huntington, que explora o cativeiro emocional. Tais histórias, embora alarmantes para alguns, têm atraído a atenção de muitos leitores, que encontram nelas um espaço para refletir sobre o amor, dor e superação.
Como observa Beatriz Oliveira, editora da Rocco, o dark romance não é uma novidade. A febre de "Cinquenta Tons de Cinza" abriu o caminho para que as pessoas explorassem romances que transcendem o convencional. Mas o que realmente explica o atual aumento desse interesse? Especialistas apontam para a brutalidade intrínseca a essas histórias como um reflexo da busca humana por cura e redenção.
Essas narrativas frequentemente incluem arcos em que o protagonista busca vingança ou realização pessoal, lidando com seus demônios internos. Essa jornada de autodescoberta e superação pode ressoar profundamente com leitores que, talvez, estejam passando por experiências semelhantes em suas vidas.
Fabiana Guntovitch, psicanalista e especialista em comportamento, afirma que este tipo de literatura permite que os leitores confrontem suas próprias dores. A identificação com os personagens que superam traumas oferece esperança para aqueles que estão lutando por um final feliz em suas próprias histórias. "Ler sobre essas vivências pode ser terapêutico e trazer algum grau de alívio", diz ela.
Além disso, Nàna Pàuvoli, uma das autoras em destaque na lista da Amazon, revela que a escrita arrojada é uma maneira de explorar emoções humanas complexas — bons e maus momentos que refletem a vida real. Para ela, escrever sobre dor e paixão é essencial para criar histórias envolventes.
Entretanto, o gênero também levanta questões importantes sobre sua acessibilidade, especialmente entre jovens leitores. Guntovitch ressalta que a maturidade emocional e cerebral necessária para processar esses temas complexos muitas vezes não está presente em adolescentes. Assim, as editoras estão atentas em classificar e alertar sobre possíveis gatilhos nas histórias.
Além disso, há uma discussão crescente nas redes sociais sobre a terminologia do gênero. Alguns sugerem remover a palavra "romance", que pode dar a entender uma romantização dos temas sombrios abordados.
A popularidade do dark romance não é apenas um fenômeno literário, mas um espelho das complexidades emocionais e sociais que nossa sociedade enfrenta. Através dessa narrativa, leitores e escritores encontram um espaço não só de escapismo, mas de reflexão e autodescoberta.