Mundo

A Corrida Contra o Tempo para Proteger o Atum-Rabilho das Mudanças Climáticas

2024-12-23

Autor: Gabriel

Em um leilão histórico em Tóquio, o magnata do sushi Kiyoshi Kimura pagou inacreditáveis US$ 3,1 milhões (cerca de R$ 18,7 milhões) por um atum-rabilho de 278 kg em 2019, tornando-o o peixe mais caro já vendido. Este atum não é apenas uma iguaria no mundo da gastronomia; ele representa também um ecossistema em perigo.

O atum-rabilho (ou bluefin) é a espécie de atum mais valorizada globalmente, especialmente em pratos de sushi e sashimi. Contudo, seu preço exorbitante se contrasta com a dura realidade da sobrepesca. Desde 2010, a população desta espécie foi severamente reduzida, alcançando níveis alarmantes.

Existem três espécies principais de atum-rabilho: o do Atlântico, do Pacífico e do Sul. O atum-rabilho do Atlântico migra entre as águas da América do Norte, Europa e África, desovando no Golfo do México e no Mar Mediterrâneo. O atum-rabilho do Pacífico, por sua vez, pode viajar mais de 8 mil quilômetros para se alimentar na costa da Califórnia.

Embora as recentes regulamentações tenham contribuído para a recuperação dessas populações, a mudança climática surge como uma nova ameaça. Pesquisas indicam que o atum-rabilho é extremamente sensível a alterações de temperatura, o que pode afetar seu metabolismo, reprodução e hábitos alimentares.

Com o aquecimento dos oceanos, os atuns estão se deslocando para águas mais frias, especificamente em direção ao norte, em uma migração que poderia mudar drasticamente a dinâmica da pesca global. Um estudo americano revelou que os atuns-rabilho do Atlântico estão se movendo em direção ao litoral de Massachusetts a uma taxa de 4 a 10 km por ano. Isso, sem dúvida, terá impacto nas comunidades pesqueiras que dependem da presença desses peixes em suas rotas migratórias tradicionais.

Os cientistas também alertam sobre o impacto do aumento das temperaturas nos locais de desova. No Mediterrâneo, onde os atuns-rabilho tradicionalmente se reproduzem, a previsão é de um aumento da temperatura média da superfície em até 3°C até o final do século. Tal alteração pode fazer com que o atum precise mudar suas áreas de reprodução para localizações mais frias, como o Golfo de Biscaia.

Ainda mais alarmante é a possibilidade de que, devido às mudanças climáticas, os jovens atuns acabem se tornando mais vulneráveis à pesca em áreas que antes eram seguras para eles, como as zonas de desova de sardinhas e anchovas.

Embora as medidas adotadas nas últimas duas décadas tenham ajudado a evitar o colapso populacional, elas acabaram impactando desproporcionalmente as comunidades de pesca menores que dependem do atum-rabilho, gerando um novo desafio a ser resolvido em um contexto de regulamentações rígidas.

Enquanto especialistas em conservação, como Alessandro Buzzi da WWF, consideram a recuperação do atum-rabilho uma vitória significativa, ele e seus colegas alertam que os desafios impostos pelas mudanças climáticas não podem ser ignorados. A necessidade urgente de adaptar as políticas de pesca e promover regulamentações sustentáveis se torna ainda mais premente à medida que o atum enfrenta um futuro incerto.

Diante das inúmeras adversidades, a esperança reside nos esforços globais concentrados em proteger o atum-rabilho e seus habitats. Com políticas adequadas e conscientização, ainda há chance de assegurar um futuro para este peixe que já se revelou incrivelmente resistente, mesmo em face das dificuldades.