Entenda a polêmica do advogado de Bolsonaro

No recente julgamento de Jair Bolsonaro, um dos seus advogados, Paulo Cunha Bueno, levantou polêmica ao comparar a situação do ex-presidente brasileiro com o emblemático Caso Dreyfus, um escândalo que marcou a história da França no final do século XIX. Segundo Bueno, Bolsonaro seria uma vítima de um processo "político", semelhante ao que Dreyfus enfrentou.

A declaração trouxe à tona a questão do antissemitismo, já que Dreyfus, um capitão judeu, foi injustamente condenado à prisão perpétua, em meio a um clima de suspeita e discriminação, o que gerou uma grande crise na sociedade francesa. Por sua vez, o filho de Bolsonaro, Flávio, saiu em defesa do pai em suas redes sociais, chamando-o de "novo Caso Dreyfus", insinuando que ele também estaria sendo alvo de injustiças.

O que foi o Caso Dreyfus?

Em 1894, Dreyfus foi condenado em um julgamento militar secreto por supostamente vender segredos para a Alemanha. No entanto, levou doze anos para que se provasse sua inocência, após suas famílias e apoiadores descobrirem que ele havia sido um bode expiatório e que as evidências contra ele eram forjadas.

O verdadeiro culpado, Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, foi identificado após investigações conduzidas por familiares e pela incessante busca de justiça do irmão de Dreyfus, Mathieu.

Uma campanha que mudou a história

A luta por justiça no caso Dreyfus ganhou força com o apoio de personalidades influentes, como o escritor Émile Zola, que publicou uma famosa carta no jornal L'Aurore, denunciando a condenação injusta e o crescente antissemitismo na sociedade francesa.

O ato de Zola, publicado sob o título "J'accuse!", transformou-se em uma frase icônica, representando a indignação contra injustiças. Após longos anos de divisões na sociedade francesa, Dreyfus foi finalmente exonerado em 1906 e readmitido no exército.

Críticas à comparação

Historiadores como Lilia Schwarcz criticaram severamente a comparação feita por Bueno. Para ela, o processo que envolve Bolsonaro possui uma base sólida de provas que não se assemelha à injustiça enfrentada por Dreyfus, que foi um caso característico de erro judicial e preconceito.

Schwarcz também destacou as diferenças contextuais entre os dois casos, onde o Caso Dreyfus refletia tensões sociais e políticas profundas, incluindo antissemitismo e conflitos entre monarquistas e republicanos, influências que culminaram em eventos históricos como as duas guerras mundiais.