
23andMe entra em recuperação judicial – e o que isso significa para seus dados
2025-03-31
Autor: Lucas
A renomada empresa 23andMe, especialista em análise genética, deu um passo drástico ao entrar em recuperação judicial, desencadeando uma corrida frenética de consumidores que buscam deletar suas informações genéticas do banco de dados antes que possam ser vendidas a terceiros. Apenas na última segunda-feira (24), a plataforma viu um aumento significativo de acessos, com 1,4 milhão de visitas, após o anúncio da recuperação judicial. Atualmente, a 23andMe abriga informações genéticas de aproximadamente 15 milhões de indivíduos, a maioria localizada nos Estados Unidos.
Criada em 2006 pela empreendedora Anne Wojcicki e mais dois co-fundadores, a 23andMe foi pioneira na oferta de testes genéticos pela internet. Embora a empresa islandesa deCODE Genetics tenha iniciado seus serviços anteriormente, limitava suas operações ao mercado local. Naquele tempo, a 23andMe atraiu a atenção da mídia internacional – especialmente pela acessibilidade de seus preços. O teste, realizado com uma amostra de saliva enviada pelo correio, custava cerca de US$ 1.000, um valor ainda elevado, mas muito inferior aos US$ 300 mil de um sequenciamento genômico completo.
Além da acessibilidade, a empresa oferecia um extenso conjunto de dados: eram 58 testes que não apenas analisavam o risco de desenvolver várias doenças, mas também rastreavam a ancestralidade genética dos usuários. Para agregar um aspecto social, a 23andMe permitia que os usuários se conectassem com amigos que também haviam passado pelo teste, promovendo uma comparação de seus perfis genéticos.
Outro fator de destaque foi a influência de Anne Wojcicki, que era casada com Sergey Brin, um dos co-fundadores do Google. Essa conexão gerou especulações sobre uma possível aquisição da empresa por parte do gigante de tecnologia, o que nunca se concretizou – o Google realizou apenas um pequeno investimento de US$ 3,9 milhões na 23andMe, que manteve sua independência.
Com o tempo, a 23andMe arrecadou quase US$ 1 bilhão, lançou ações na bolsa e firmou uma parceria com a farmacêutica GSK para desenvolver tratamentos contra o câncer. Porém, em 2013, a FDA (agência responsável pela saúde nos EUA) suspendeu a comercialização dos testes da empresa por quase dois anos. O problema apontado era que a 23andMe frequentemente exagerava na interpretação dos resultados, alegando relações não comprovadas entre certos genes e doenças específicas.
Em 2023, a empresa enfrentou outro revés significativo: um ataque hacker expôs dados de 7 milhões de pessoas, o que prejudicou gravemente sua reputação e afastou consumidores. Esse evento se seguiu a demissões em massa, resultando na redução de sua força de trabalho em mais de 200 funcionários.
Com a recuperação judicial, a 23andMe terá prazos adicionais para saldar suas dívidas, um processo que pode oferecer à empresa uma chance de sobrevivência. No entanto, isso também pode abrir as portas para a venda de dados genéticos dos consumidores, suscitando preocupações sobre privacidade e segurança. O futuro da 23andMe permanece incerto, mas as implicações para seus usuários e seus dados são alarmantes e devem ser acompanhadas de perto.